domingo, 5 de julho de 2015

Teatro Sonata a Kreutzer de Leon Tolstói


Teatro Sonata a Kreutzer (Ensaio sobre o Cíume)
  Apresentação no Teatro Municipal de Mauá do Espetáculo "Sonata a Kreutzer - Um Incomensurável Abismo de Incompreensão, adaptação da Cia Teatral LUPA para a Novela homónima de Leon Tolstói.
O Actor Valmir D'Fiama dá vida ao personagem Pozdnychev (Um homem atormentado pelo Assassinato de sua Mulher), relata factos da sua vida e os motivos que o levaram a cometer o terrível crime. O que à primeira vista pode parecer um simples crime passional, se mostra um emaranhado de acontecimentos corriqueiros que o conduz ao desastre.
É na verdade um relato da frágil condição humana,onde as convicções inabaláveis de um homem, na prática, levam-no a ser vítima dos seus próprios actos.

Direcção de Macário Ohana Vangélis
Aux. de Direção e iluminação de Milton Lopes
Operação de Luz de Evandro Silva
Cenografia de Valmir D'Fiama
Figurino de Silvana Xavier


Apoio Cultural de Relógio D'Água Editores de Portugal.


«Um pequeno romance de Tolstoi que retrata questões relativas ao papel do homem e da mulher numa sociedade em mudança, na Rússia de finais de século XIX. Embora particularizando, Tolstoi, através do discurso dos seus personagens, levanta uma série de questões universais sobre a moralidade das relações entre os homens e as mulheres, e os factores que influenciam os comportamentos de cada um, desde os simples instintos aos gerados pela própria educação ou pelas convenções sociais em vigor - quer as mais evidentes e formais, quer aquelas que toda a gente segue por pensar que esse é um padrão natural de comportamento, sem reflectirem se de facto será um comportamento aceitável.

A acção desenrola-se numa viagem de comboio, onde, por mero acaso, se vão juntando passageiros que em conversa abordam questões relacionadas com os casamentos e os divórcios, sobre as motivações que devem sustentar um casamento, e sobre o papel do amor nas relações entre homem e mulher, com particular ênfase na durabilidade desse mesmo amor. Surgem algumas discussões bastante acesas, com posturas radicais e opostas de alguns personagens. Associados a esta discussão, surgem naturalmente outros temas ligados ao comportamento do homem e da mulher na sociedade, o papel e influência de cada um na vida do outro, a importância da mulher, o poder que esta tem e o potencial maior poder que esta terá numa sociedade mais aberta.

A determinada altura, um passageiro que assistiu a toda a discussão, muito calado, começa a falar com o único passageiro que ficou quando todos os outros acabaram de sair do comboio em paragens intermédias. Podzdnischeff, renegando quase por completo tudo o que tinha sido discutido até aí, começa a contar a esse passageiro a sua história, em que prova que toda uma educação e auto-preparação moral perante as imperfeições das relações entre um homem e uma mulher, e a procura da mulher certa, de nada servem face a aspectos negros da nossa alma que se revelam em determinadas situações num relacionamento entre um homem e uma mulher, que, no seu caso, como diz logo no inicio do seu (longo) relato, culminou com o assassinato da mulher.

É um relato triste e amargurado, revelando muitas das armadilhas do casamento, cujo sucesso não depende apenas do amor e de uma construção racional de um ideal (sobretudo moral, neste caso) de um relacionamento perfeito entre um homem e uma mulher. Uma vez que as várias fases de um casamento, começando logo na lua de mel, são influenciadas por uma série de factores individuais que os próprios não conseguem controlar, em virtude de aspectos psicológicos profundamente enraizados em cada um, e que se vão revelando consoante as diferentes situações com que se deparam dentro do casamento, que são antagónicos e que muitas vezes não se conseguem conciliar, gerando antipatias e ódios crescentes.

A música (sobre a qual Tolstoi fala sobre os efeitos que tem sobre o nosso espírito), e, em particular, a execução da "Sonata a Kreutzer" despoleta em Podzdnischeff um conjunto de sentimentos que vão desencadear o triste desenlace final. Não sendo este um verdadeiro ensaio sobre o ciúme, é talvez um ensaio sobre a frágil convicção do homem que por vezes julga que se pode controlar completamente a si próprio e aos outros com uma série de ideias inabaláveis, mas que, em situações práticas, ele próprio acaba por ser vítima da sua condição como ser humano, cuja essência acaba sempre por furar a barragem das ideologias que constrói.»

(Paulo Nenes da Silva)

https://youtu.be/hZ85a90hMfs*****http://bit.ly/1HFkmoX

Sem comentários:

Enviar um comentário