terça-feira, 3 de novembro de 2015

SEMENTEIRA

SEMENTEIRA
Com um garfo
separava
para uma saca de plástico
arroz,
pedacinhos de pescada,
carapau, chicharro;
as espinhas deitava-as ao lixo.
O melhor do conduto
era sempre para os gatos.
Semelhante ao poeta
que guarda a parte maior
da sua vida,
as palavras,
para o leitor.
Jorge Gomes Miranda
[in Velhos, colecção Poesia Portuguesa Contemporânea
das edições do Teatro de Vila Real, 2008]


FOTOGRAFIA ACABADA DE REVELAR

Por vezes, só me dava dores de cabeça,
consumições,
a ponto de ter de ferrar-lhe um bofetão.
Mas que alegria noutras alturas:
quando vinda da escola chegava
ao pé de mim, a sorrir,
e me punha a mão, de criança, na cabeça
e eu,
um velha para aqui,
ficava tal
uma fotografia acabada de revelar.

As palavras de Jorge Gomes Miranda:

http://archive.radiozero.pt/inverno20090127.mp3



Sem comentários:

Enviar um comentário