sábado, 20 de junho de 2015

A abelha que, voando, freme sobre


Ricardo Reis
 
 
A abelha que, voando, freme sobre
A colorida flor, e pousa, quase
Sem diferença dela
À vista que não olha,
Não mudou desde Cecrops. Só quem vive
Uma vida com ser que se conhece
Envelhece, distinto
Da espécie de que vive.
Ela é a mesma que outra que não ela.
Só nós — ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte!—
Mortalmente compramos
Ter mais vida que a vida.
 
2-9-1923
Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa.

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