segunda-feira, 29 de junho de 2015

AO VENTO


 O vento passa a rir, torna a passar,
Em gargalhadas ásperas de demente;
E esta minh′alma trágica e doente
Não sabe se há-de rir, se há-de chorar!
 Vento de voz tristonha, voz plangente,
Vento que ris de mim, sempre a troçar,
Vento que ris do mundo e do amar,
A tua voz tortura toda a gente!
 Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa essa dor a sós comigo,
E não rias assim!... Ó vento, chora!
 Que eu bem conheço, amigo, esse fadário
Do nosso peito ser como um Calvário,
E a gente andar a rir p′la vida fora!


 Florbela Espanca

Sem comentários:

Enviar um comentário