quinta-feira, 17 de setembro de 2015


“Acabavam de festejar as bodas de ouro e não sabiam viver, nem um momento, um sem o outro, nem sem pensarem um no outro, e cada vez o sabiam menos à medida que se agravava a velhice. Nem ele nem ela podiam dizer se essa dependência recíproca se fundia no amor ou na comodidade, mas nunca se tinham interrogado com a mão sobre o coração, porque, desde sempre, ambos preferiam ignorar a resposta. Ela tinha descoberto, a pouco e pouco, a incerteza nos passos do marido, as suas mudanças de humor, os seus lapsos de memória, o hábito recente de soluçar a dormir, mas não os interpretou como sinais inequívocos do entorpecimento final, mas sim como um regresso feliz à infância. Por isso não o tratava como a um velho difícil mas como a um menino senil, e esse engano foi providencial para os dois, porque os salvou da compaixão.

Outra coisa bem diferente teria sido a vida para eles, se tivessem sabido a tempo que era mais fácil ultrapassar as grandes catástrofes matrimoniais do que as pequenas misérias do dia-a-dia. Mas se alguma coisa tinham aprendido juntos era que a sabedoria só nos chega quando já não nos serve para nada.”

  Gabriel García Marquez em  “O Amor nos Tempos de Cólera”


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