segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Sigur Rós - "All Alright"



I want him to know
What I have done
I want him to know
It's bad

I want him to know
What I have done
I want him to know
Right now

It may be this time tomorrow
Or maybe today
It is not right
Now it's better
Now we'll know
Now he'll know what I have done
I'm sitting with you
Sitting in silence
Listening to birds
It feels like home

Singing in tune together
A psalm for no one
They sing in tune
"Birdlove -- it's strong"

They sing into the night
They sing on for me
They sing into the night, and

[hopelandic]

You...
You are still next to me, alright

domingo, 23 de outubro de 2016

Red Meadow - Woman



A simple love song.
April fields, the sun in your hair 
We’ve been here now forever I swear
I can’t believe that I’ve only known you a day
A summer breeze, a smile in the crowd
I saw your eyes they were saying out loud
You’ll be here when all this is gone long ago
CHORUS:
Woman won’t you remember to watch over me?
I can see to some distant time
Woman tell me you’ll always be mine
Like the day when we took our vows, feel the same
CHORUS:
Woman won’t you remember to watch over me?
And I want you to know how I feel inside
I want you to find what I cannot hide
I need you to be there to catch my fall
Pick me up when I’m feeling small
Feel my heart when it’s reaching out to you

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

"Les Miserables" Complete Symphonic



"As pequenas consciências piscam o olho,
as grandes lançam raios.
Se não há nada que brilhe debaixo da pálpebra,
é que não há nada que pense no cérebro,
é que não há nada que ame no coração."

Victor Hugo

Micah P. Hinson - "While my guitar gently weeps"

Giuseppe Verdi - "Macbeth". Olga Sergeeva

Lyle Mays - Street Dreams.

Do Lado de Lá / Drueben

Do Lado de Lá / Drueben


Só para lá dos castanheiros está o mundo.
De lá sopra à noite um vento trazido pelas nuvens
e que por aqui algures vai ficando…
é ele que o transporta, por sobre os castanheiros:
“ tenho a doçura dos Anjos, e um dedal vermelho!
só para lá dos castanheiros está o mundo…”

É então que eu canto, baixinho, como fazem os grilos,
é então que o agarro, o impeço de fugir:
o meu apelo prende-lhe as articulações! 
Oiço o vento que regressa em inúmeras noites:
“ comigo ardem os longes, contigo o apertado…”
Eu então canto baixinho, como fazem os grilos.

Mas se hoje a noite não se iluminar
e o vento voltar trazido pelas nuvens:
“ tenho a doçura dos Anjos, e um dedal vermelho!”
e se ele quiser passar para lá dos castanheiros -
então eu, então eu não o prenderei aqui…

Só para lá dos castanheiros está o mundo.

Paul Celan

Maria Velho da Costa — Maria Agustina, a trânsfuga

Maria Velho da Costa — Maria Agustina, a trânsfuga

Não tem fito, não tem medo.

Vem em direcção ao olhar que a revê.

Pequena, cantarolante e abanando a saia, debaixo das estrelas que esmorecem. A lua desmaia, o alfange comido pelos rubores da aurora. Ela pára, aponta, abre a boca para dizer lua e vêem-se os dentes de rato, o riso de todas as palavras.

Tem quatro palmos de tamanhinha e vem só.

O vestido está desabotoado nas costas, os sapatos de verniz de presilha, os preferidos, vão soltas chancas a brilhar no relento da manhã. Atrapalham, mas não impedem. Os olhos apertados de botão-azeviche são só sorriso ufano, a quatro palmos do chão na cara cor de rosa-chá.

Tem três anos de idade e fugiu de casa.

Não é amuo, é o desconchavo do mundo o que a faz vir.

Diz ao sol subinte, esmerei-me, esmerei-me, ó medronho, ninguém me viu sair. Nem criada, nem ama, nem mãe.

Lá vem ela, no carreiro ermo, no plaino pedregoso, a que não terá contemporâneos.

Move-a o amor frio, a cabeça quente do poderio da terra. Não traz cuecas. Abre as pernas, ainda de roscas roliças, para uma pocinha escura. Triunfa, menina total e raciocinante.

Vibra e caminha, humaníssima.

Diz ao céu que se acende: amaldiçoa-me, mas deixa-me ser livre. E assim foi.

 Maria Velho da Costa

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Gustav Mahler - "Das Lied von der Erde" ("The Song of the Earth") 1/2

Gustav Mahler - "Das Lied von der Erde" ("The Song of the Earth") 2/2

Johann Sebastian Bach. Schmücke dich, o liebe Seele, BWV 180



Johann Sebastian Bach. Schmücke dich, o liebe Seele, BWV 180

Coro: Schmücke dich, o liebe Seele
Aria Tenor: Ermuntre dich, dein Heiland klopft
Recitative y Arioso Soprano: Wie teuer sind des heilgen Mahles Gaben!
Recitativo Alto: Mein Herz fühlt in sich Furcht und Freude
Aria Soprano: Lebens Sonne, Licht der Sinnen
Recitativo Bajo: Herr, laß an mir dein treues Lieben
Coral: Jesu, wahres Brot des Lebens

Barbara Schlick, soprano
Andeas Scholl, alto
Christoph Pregardien, tenor
Gotthold Schwarz, bajo

Collegium Vocale de Leipzig
Ensemble Baroque de Limoges
Christophe Coin

domingo, 17 de julho de 2016

Maximilian Hecker - Help Me

J.S. Bach St. Matthew Passion BWV 244, Eugen Jochum



Tenor [Evangelist]: Ernst Haefliger;
Bass [Jesus]: Walter Berry;
Soprano: Agnes Giebel; Alto: Marga Höffgen;
Tenor [Arias]: John van Kesteren;
Bass [Arias]: Franz Crass;
Bass [Peter, Pilate, High Priest, Judas]: Leo Ketelaars;
Ripieno parts sung by Jongenskoor St. Willibrord Amsterdam

Nederlands Radio Koor & Boys' Choir of St. Willibrordskerk, Amsterdam
Concertgebouw Orchestra Amsterdam
Eugen Jochum Conductor

Philips 835372-375
Nov 1965
2nd recording of Matthäus-Passion BWV 244 by E. Jochum.

1st Part 0:00
2nd Part 1:25:36

Paintings:
No.1 Caravaggio, Matthew and The Angel
No.2 Guido Ren, St. Matthew and The Angel 1635
No.3 Vincenzo Campi, St. Matthew and the Angel

sábado, 16 de julho de 2016

ARADHNA - Mukteshwar



Lyrics: 

Blessed are the merciful for they will be shown mercy
Those who are poor in this world
Blessed are they, blessed are they
For the kingdom of heaven is theirs
Blessed are they, blessed are they
They who mourn in this world, will have peace
The meek in this world, will rule
Blessed are the merciful for they will be shown mercy
Those whose hearts are pure in this world will see God
Those who make peace will be called the children of God - Sri Yeshu Ji

Spleen


Quando o cinzento céu, como pesada tampa,
Carrega sobre nós, e nossa alma atormenta,
E a sua fria cor sobre a terra se estampa,
O dia transformado em noite pardacenta;

Quando se muda a terra em húmida enxovia
D'onde a Esperança, qual morcego espavorido,
Foge, roçando ao muro a sua asa sombria,
Com a cabeça a dar no tecto apodrecido;

Quando a chuva, caindo a cântaros, parece
D'uma prisão enorme os sinistros varões,
E em nossa mente em frebre a aranha fia e tece,
Com paciente labor, fantásticas visões,

- Ouve-se o bimbalhar dos sinos retumbantes,
Lançando para os céus um brado furibundo,
Como os doridos ais de espíritos errantes
Que a chorrar e a carpir se arrastam pelo mundo;

Soturnos funerais deslizam tristemente
Em minh'alma sombria. A sucumbida Esp'rança,
Lamenta-se, chorando; e a Angústia, cruelmente,
Seu negro pavilhão sobre os meus ombros lança!

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
(Tradução de Delfim Guimarães )


.
ARADHNA

 https://soundcloud.com/#aradhna

terça-feira, 12 de julho de 2016

Bedřich Smetana "Má vlast_Z českých luhů a hájů"



 «De los bosques y prados de Bohemia. Má vlast (generalmente traducido como Mi país o, más correctamente, Mi patria) es un conjunto de seis poemas sinfónicos compuestos por el compositor checo Bedřich Smetana entre 1874 y 1879. Aunque se suele presentar como una obra completa en seis movimientos, las partes que lo componen fueron concebidas como obras individuales.

 Smetana usa en estas obras el estilo de poema sinfónico iniciado por Franz Liszt, que incluye una orientación nacionalista de la música que fue habitual a finales del siglo XIX. Cada poema representa un aspecto del paisaje rural, la historia o las leyendas de Bohemia. Este poema, cuyo título se puede traducir como "De los bosques y prados de Bohemia", fue acabado por Smetana el 18 de octubre de 1875, y estrenado el 10 de diciembre de 1878. Representa la belleza de los paisajes rurales de Bohemia. Prague Radio Symphony Orchestra. Vladimír Válek, director.»

 (Antonio Prieto Pérez)

sábado, 9 de julho de 2016

Amílcar Vasques-Dias - O almocreve


TRIO EM CANTE - música do Alentejo
Gravação Antena 2 - CCB - 27.2.2013
Joaquim Soares, ponto
Pedro Calado, alto
Amílcar Vasques-Dias, piano
Imagem de Helena Nóbrega

Memórias Póstumas de Brás Cubas por Machado de Assis
Capítulo XXI:

 O almocreve https://pt.wikisource.org/wiki/Mem%C3%B3rias_P%C3%B3stumas_de_Br%C3%A1s_Cubas/XXI

O Almocreve - Machado de Assis


Machado de Assis


"Memórias Póstumas de Brás Cubas"

"O Almocreve" - 

  Capítulo XXI

"Vai então, empacou o jumento em que eu vinha montado; fustiguei-o, ele deu dois corcovos, depois mais três, enfim mais um, que me sacudiu fora da sela, e com tal desastre, que o pé esquerdo me ficou preso no estribo; tento agarrar-me ao ventre do animal, mas já então, espantado, disparou pela estrada afora. Digo mal: tentou disparar, e efectivamente deu dois saltos, mas um almocreve, que ali estava, acudiu a tempo de lhe pegar na rédea e detê-lo, não sem esforço nem perigo. Dominado o bruto, desvencilhei-me do estribo e pus-me de pé.


- Olhe do que vosmecê escapou, disse o almocreve.


E era verdade; se o jumento corre por ali fora, contundia-me deveras, e não sei se a morte não estaria no fim do desastre; cabeça partida, uma congestão, qualquer transtorno cá dentro, lá se me ia a ciência em flor. O almocreve salvara-me talvez a vida; era positivo; eu sentia-o no sangue que me agitava o coração. Bom almocreve! enquanto eu tornava à consciência de mim mesmo, ele cuidava de consertar os arreios do jumento, com muito zelo e arte. Resolvi dar-lhe três moedas de ouro das cinco que trazia comigo; não porque tal fosse o preço da minha vida, -- essa era inestimável; mas porque era uma recompensa digna da dedicação com que ele me salvou. Está dito, dou-lhe as três moedas.

- Pronto, disse ele, apresentando-me a rédea da cavalgadura.

- Daqui a nada, respondi; deixa-me, que ainda não estou em mim...

- Ora qual!

- Pois não é certo que ia morrendo?

- Se o jumento corre por aí fora, é possível; mas, com a ajuda do Senhor, viu vosmecê que não aconteceu nada.

Fui aos alforjes, tirei um colete velho, em cujo bolso trazia as cinco moedas de ouro, e durante esse tempo cogitei se não era excessiva a gratificação, se não bastavam duas moedas. Talvez uma. Com efeito, uma moeda era bastante para lhe dar estremeções de alegria. Examinei-lhe a roupa; era um pobre diabo, que nunca jamais vira uma moeda de ouro. Portanto, uma moeda. Tirei-a, via-a reluzir à luz do sol; não a viu o almocreve, porque eu tinha-lhe voltado as costas; mas suspeitou-o talvez, entrou a falar ao jumento de um modo significativo; dava-lhe conselhos, dizia-lhe que tomasse juízo, que o «senhor doutor» podia castigá-lo; um monólogo paternal. Valha-me Deus! até ouvi estalar um beijo: era o almocreve que lhe beijava a testa.

- Olé! exclamou.

- Queira vosmecê perdoar, mas o diabo do bicho está a olhar para a gente com tanta graça...

Ri-me, hesitei, meti-lhe na mão um cruzado em prata, cavalguei o jumento, e segui a trote largo, um pouco vexado, melhor direi um pouco incerto do efeito da pratinha. Mas a algumas braças de distância, olhei para trás, o almocreve fazia-me grandes cortesias, com evidentes mostras de contentamento. Adverti que devia ser assim mesmo; eu pagara-lhe bem, pagara-lhe talvez demais. Meti os dedos no bolso do colete que trazia no corpo e senti umas moedas de cobre; eram os vinténs que eu devera ter dado ao almocreve, em lugar do cruzado em prata. Porque, enfim, ele não levou em mira nenhuma recompensa ou virtude, cedeu a um impulso natural, ao temperamento, aos hábitos do ofício; acresce que a circunstância de estar, não mais adiante nem mais atrás, mas justamente no ponto do desastre, parecia constituí-lo simples instrumento de Providência; e de um ou de outro modo, o mérito do ato era positivamente nenhum. Fiquei desconsolado com esta reflexão, chamei-me pródigo, lancei o cruzado à conta das minhas dissipações antigas; tive (por que não direi tudo?), tive remorsos."

segunda-feira, 4 de julho de 2016

NA FLORESTA DO ALHEAMENTO

Fernando Pessoa

NA FLORESTA DO ALHEAMENTO

Sei que despertei e que ainda durmo. O meu corpo antigo, moído de eu viver diz-me que é muito cedo ainda... Sinto-me febril de longe. Peso-me, não sei porquê...
Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo, estagno, entre o sono e a vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar. Minha atenção bóia entre dois mundos e vê cegamente a profundeza de um mar e a profundeza de um céu; e estas profundezas interpenetram-se, misturam-se, e eu não sei onde estou nem o que sonho.
Um vento de sombras sopra cinzas de propósitos mortos sobre o que eu sou de desperto. Cai de um firmamento desconhecido um orvalho morno de tédio. Uma grande angústia inerte manuseia-me a alma por dentro e, incerta, altera-me, como a brisa aos perfis das copas.
Na alcova mórbida e morna a antemanhã de lá fora é apenas um hálito de penumbra. Sou todo confusão quieta... Para que há-de um dia raiar?... Custa-me o saber que ele raiará, como se fosse um esforço meu que houvesse de o fazer aparecer.
Com uma lentidão confusa acalmo. Entorpeço-me. Bóio no ar, entre velar e dormir, e uma outra espécie de realidade surge, e eu em meio dela, não sei de que onde que não é este...
Surge mas não apaga esta, esta da alcova tépida, essa de uma floresta estranha. Coexistem na minha atenção algemada as duas realidades, como dois fumos que se misturam.
Que nítida de outra e de ela essa trémula paisagem transparente! ...
E quem é esta mulher que comigo veste de observada essa floresta alheia? Para que é que tenho um momento de mo perguntar?... Eu nem sei querê-lo saber...
A alcova vaga é um vidro escuro através do qual, consciente dele, vejo essa paisagem..., e a essa paisagem conheço-a há muito, e há muito que com essa mulher que desconheço erro, outra realidade, através da irrealidade dela. Sinto em mim séculos de conhecer aquelas árvores e aquelas flores e aquelas vias em desvios e aquele ser meu que ali vagueia, antigo e ostensivo ao meu olhar que o saber que estou nesta alcova veste de penumbras de ver...
De vez em quando pela floresta onde de longe me vejo e sinto um vento lento varre um fumo, e esse fumo é a visão nítida e escura da alcova em que sou actual, destes vagos móveis e reposteiros e do seu torpor de nocturna. Depois esse vento passa e torna a ser toda só ela a paisagem daquele outro mundo...
Outras vezes este quarto estreito é apenas uma cinza de bruma no horizonte dessa terra diversa... E há momentos em que o chão que ali pisamos é esta alcova visível...
Sonho e perco-me, duplo de ser eu e essa mulher... Um grande cansaço é um fogo negro que me consome... Uma grande ânsia passiva é a vida falsa que me estreita...
Ó felicidade baça!... O eterno estar no bifurcar dos caminhos!... Eu sonho e por detrás da minha atenção sonha comigo alguém. E talvez eu não seja senão um sonho desse Alguém que não existe...
Lá fora a antemanhã tão longínqua! A floresta tão aqui ante outros olhos meus!
E eu, que longe dessa paisagem quase a esqueço, é ao tê-la que tenho saudades dela, é ao percorrê-la que a choro e a ela aspiro.
As árvores! As flores! O esconder-se copado dos caminhos!...
Passeávamos às vezes, braço dado, sob os cedros e as olaias e nenhum de nós pensava em viver. A nossa carne era-nos um perfume vago e a nossa vida um eco de som de fonte. Dávamo-nos as mãos e os nossos olhares perguntavam-se o que seria o ser sensual e o querer realizar em carne a ilusão do amor...
No nosso jardim havia flores de todas as belezas... — rosas de contornos enrolados, lírios de um branco amarelecendo-se, papoilas que seriam ocultas se o seu rubro lhes não espreitasse presença, violetas pouco na margem tufada dos canteiros, miosótis mínimos, camélias estéreis de perfume... E, pasmados por cima de ervas altas, olhos, os girassóis isolados fitavam-nos grandemente.
Nós roçávamos a alma toda vista pelo fresco visível dos musgos e tínhamos, ao passar pelas palmeiras, a intuição esguia de outras terras... E subia-nos o choro à lembrança, porque nem aqui, ao sermos felizes, o éramos...
Carvalhos cheios de séculos nodosos faziam tropeçar os nossos pés nos tentáculos mortos das suas raízes... Plátanos estacavam... E ao longe, entre árvore e árvore de perto, pendiam no silêncio das latadas os cachos negrejantes das uvas...
O nosso sonho de viver ia adiante de nós, alado, e nós tínhamos para ele um sorriso igual e alheio, combinado nas almas, sem nos olharmos, sem sabermos um do outro mais do que a presença apoiada de um braço contra a atenção entregue do outro braço que o sentia.
A nossa vida não tinha dentro. Éramos fora e outros. Desconhecíamo-nos, como se houvéssemos aparecido às nossas almas depois de uma viagem através de sonhos...
Tínhamo-nos esquecido do tempo, e o espaço imenso empequenara-se-nos na atenção. Fora daquelas árvores próximas, daquelas latadas afastadas, daqueles montes últimos no horizonte haveria alguma coisa de real, de merecedor do olhar aberto que se dá às coisas que existem?...
Na clepsidra da nossa imperfeição gotas regulares de sonho marcavam horas irreais... Nada vale a pena, ó meu amor longínquo, senão o saber como é suave saber que nada vale a pena...
O movimento parado das árvores: o sossego inquieto das fontes; o hálito indefinível do ritmo íntimo das seivas; o entardecer lento das coisas, que parece vir-lhes de dentro a dar mãos de concordância espiritual ao entristecer longínquo, e próximo à alma, do alto silêncio do céu; o cair das folhas, compassado e inútil, pingos de alheamento, em que a paisagem se nos torna toda para os ouvidos e se entristece em nós como uma pátria recordada — tudo isto, como um cinto a desatar-se, cingia-nos, incertamente.
Ali vivemos um tempo que não sabia decorrer, um espaço para que não havia pensar em poder-se medi-lo. Um decorrer fora do Tempo, uma extensão que desconhecia os hábitos da realidade do espaço... Que horas, ó companheira inútil do meu tédio, que horas de desassossego feliz se fingiram nossas ali!... Horas de cinza de espírito, dias de saudade espacial, séculos interiores de paisagem externa... E nós não nos perguntávamos para que era aquilo, porque gozávamos o saber que aquilo não era para nada.
Nós sabíamos ali, por uma intuição que por certo não tínhamos, que este dolorido mundo onde seríamos dois, se existia, era para além da linha extrema onde as montanhas são hálitos de formas, e para além dessa não havia nada. E era por causa da contradição de saber isto que a nossa hora de ali era escura como uma caverna em terra de supersticiosos, e o nosso senti-la ela estranho como um perfil da cidade mourisca contra um céu de crepúsculo outonal...
Orlas de mares desconhecidos tocavam no horizonte de ouvirmos, praias que nunca poderíamos ver, e era-nos a felicidade escutar, até vê-lo em nós, esse mar onde sem dúvida singravam caravelas com outros fins em percorrê-lo que não os fins úteis e comandados da Terra.
Reparávamos de repente, como quem repara que vive, que o ar estava cheio de cantos de ave, e que, como perfumes antigos em cetins, o marulho esfregado das folhas estava mais entranhado em nós do que a consciência de o ouvirmos.
E assim o murmúrio das aves, o sussurro dos arvoredos e o fundo monótono e esquecido do mar eterno punham à nossa vida abandonada uma auréola de não a conhecermos. Dormimos ali acordados dias, contentes de não ser nada, de não ter desejos nem esperanças, de nos termos esquecido da cor dos amores e do sabor dos ódios. Julgávamo-nos imortais...
Ali vivemos horas cheias de um outro sentimo-las, horas de uma imperfeição vazia e tão perfeitas por isso, tão diagonais à certeza rectângula da vida. Horas imperiais depostas, horas vestidas de púrpura gasta, horas caídas nesse mundo de um outro mundo mais cheio do orgulho de ter mais desmanteladas angústias...
E doía-nos gozar aquilo, doía-nos... Porque, apesar do que tinha de exílio calmo, toda essa paisagem nos sabia a sermos deste mundo, toda ela era húmida da pompa de um vago tédio, triste e enorme e perverso como a decadência de um império ignoto...
Nas cortinas da nossa alcova a manhã é uma sombra de luz. Meus lábios, que eu sei que estão pálidos, sabem um ao outro a não quererem ter vida.
O ar do nosso quarto neutro é pesado como um reposteiro. A nossa atenção sonolenta ao mistério de tudo isto é mole como uma cauda de vestido arrastado num cerimonial no crepúsculo.
Nenhuma ânsia nossa tem razão de ser. Nossa atenção é um absurdo consentido pela nossa inércia alada.
Não sei que óleos de penumbra ungem a nossa ideia do nosso corpo. O cansaço que temos é a sombra de um cansaço. Vem-nos de muito longe, como a nossa ideia de haver a nossa vida...
Nenhum de nós tem nome ou existência plausível. Se pudéssemos ser ruidosos ao ponto de nos imaginarmos rindo riríamos sem dúvida de nos julgarmos vivos. O frescor aquecido do lençol acaricia-nos (a ti como a mim decerto) os pés que se sentem, um ao outro, nus.
Desenganemo-nos, meu amor, da vida e dos seus modos. Fujamos a sermos nós... Não tiremos do dedo o anel mágico que chama, mexendo-se-lhe, pelas fadas do silêncio e pelos elfos da sombra e pelos gnomos do esquecimento...
E ei-la que, ao irmos a sonhar falar nela, surge ante nós outra vez, a floresta muita, mas agora mais perturbada da nossa perturbação e mais triste da nossa tristeza. Foge de diante dela, como um nevoeiro que se esfolha, a nossa ideia do mundo real, e eu possuo-me outra vez no meu sonho errante, que essa floresta misteriosa enquadra...
As flores, as flores que ali vivi! Flores que a vista traduzia para seus nomes, conhecendo-as, e cujo perfume a alma colhia, não nelas mas na melodia dos seus nomes... Flores cujos nomes eram, repetidos em sequência, orquestras de perfumes sonoros... Árvores cuja volúpia verde punha sombra e frescor no como eram chamadas... Frutos cujo nome era um cravar de dentes na alma da sua polpa... Sombras que eram relíquias de outroras felizes... Clareiras, clareiras claras, que eram sorrisos mais francos da paisagem que se bocejava em próxima... Ó horas multicolores!... Instantes-flores, minutos-árvores, ó tempo estagnado em espaço, tempo morto de espaço e coberto de flores, e do perfume de flores, e do perfume de nomes de flores!...
Loucura de sonho naquele silêncio alheio!...
A nossa vida era toda a vida... O nosso amor era o perfume do amor... Vivíamos horas impossíveis, cheias de sermos nós... E isto porque sabíamos, com toda a carne da nossa carne, que não éramos uma realidade...
Éramos impessoais, ocos de nós, outra coisa qualquer... Éramos aquela paisagem esfumada em consciência de si própria... E assim como ela era duas — de realidade que era, a ilusão — assim éramos nós obscuramente dois, nenhum de nós sabendo bem se o outro não ele próprio, se o incerto outro viveria...
Quando emergíamos de repente ante o estagnar dos lagos sentíamo-nos a querer soluçar...
Ali aquela paisagem tinha os olhos rasos de água, olhos parados, cheios do tédio inúmero de ser... Cheios, sim, do tédio de ser, de ter de ser qualquer coisa, realidade ou ilusão — e esse tédio tinha a sua pátria e a sua voz na mudez e no exílio dos lagos... E nós, caminhando sempre e sem o saber ou querer, parecia ainda assim que nos demorávamos à beira daqueles lagos, tanto de nós com eles ficava e morava, simbolizado e absorto...
E que fresco e feliz horror o de não haver ali ninguém! Nem nós, que por ali íamos, ali estávamos... Porque nós não éramos ninguém. Nem mesmo éramos coisa alguma... Não tínhamos vida que a Morte precisasse para matar. Éramos tão ténues e rasteirinhos que o vento do decorrer nos deixara inúteis e a hora passava por nós acariciando-nos como uma brisa pelo cimo duma palmeira.
Não tínhamos época nem propósito. Toda a finalidade das coisas e dos seres ficara-nos à porta daquele paraíso de ausência. Imobilizara-se, para nos sentir senti-la, a alma rugosa dos troncos, a alma estendida das folhas, a alma núbil das flores, a alma vergada dos frutos...
E assim nós morremos a nossa vida, tão atentos separadamente a morrê-la que não reparámos que éramos um só, que cada um de nós era uma ilusão do outro, e cada um, dentro de si, o mero eco do seu próprio ser...
Zumbe uma mosca, incerta e mínima...
Raiam na minha atenção vagos ruídos, nítidos e dispersos, que enchem de ser já dia a minha consciência do nosso quarto... Nosso quarto? Nosso de que dois, se eu estou sozinho? Não sei. Tudo se funde e só fica, fugindo, uma realidade-bruma em que a minha incerteza sossobra e o meu compreender-me, embalado de ópios, adormece...
A manhã rompeu, como uma queda, do cimo pálido da Hora...
Acabaram de arder, meu amor, na lareira da nossa vida, as achas dos nossos sonhos...
Desenganemo-nos da esperança, porque trai, do amor, porque cansa, da vida, porque farta e não sacia, e até da morte, porque traz mais do que se quer e menos do que se espera.
Desenganemo-nos, ó Velada, do nosso próprio tédio, porque se envelhece de si próprio e não ousa ser toda a angústia que é.
Não choremos, não odiemos, não desejemos...
Cubramos, ó Silenciosa, com um lençol de linho fino o perfil hirto e morto da nossa Imperfeição...

s.d.

Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. Fernando Pessoa.

Tiganá Santana - Tempo & Magma

Аквариум (Aquarium) - На Ход Ноги

American Music Club "Why Won't You Stay"

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Os poetas - "A magnólia" (Luiza Neto Jorge) disco "entre nós e as palavras" (1997)

Paulinho da Viola - Sinal Fechado



Olá, como vai?
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem eu vou indo correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranquilo, quem sabe ...
Quanto tempo... pois é...
Quanto tempo...
Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos negócios
Oh! Não tem de quê
Eu também só ando a cem
Quando é que você telefona?
Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo talvez nos vejamos
Quem sabe ?
Quanto tempo... pois é... (pois é... quanto tempo...)
Tanta coisa que eu tinha a dizer
Mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer
Mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso
Beber alguma coisa, rapidamente
Pra semana
O sinal ...
Eu espero você
Vai abrir...
Por favor, não esqueça,
Adeus...

John Hiatt - Memphis In The Meantime

terça-feira, 28 de junho de 2016

The Dubliners

The Dubliners - Whiskey in the Jar

“Caminhos de Ferreira de Castro”

«Um novo roteiro literário percorre os primeiros anos de vida do escritor d' "A Selva" na sua terra natal, Ossela, Oliveira de Azeméis. São 12km entre rio, livros, uma casa-museu.
Ele tinha aquela mania que tudo tinha de estar no sítio. A cama onde nasceu, a masseira do pão, a escudela onde se lavava a louça, as velhas panelas, o cântaro da água, os frascos dos remédios, os santinhos pendurados nas paredes pela mãe, os móveis, as cadeiras. José Maria Ferreira de Castro nasceu numa casa modesta a 24 de Maio de 1898 em Ossela, Oliveira de Azeméis. A casa que quis transformar em museu com tudo no lugar da sua infância para mostrar as origens sem rodeios, sem retoques, sem artifícios. A casa-museu é uma das 34 estações do roteiro literário “Caminhos de Ferreira de Castro” que é inaugurado a 28 de Maio. No ano em que se assinala o centenário da vida literária do autor de Emigrantes, um dos escritores portugueses mais traduzidos no mundo, é possível abraçar os primeiros anos da sua vida precisamente onde tudo aconteceu, em Ossela, ao longo de 34 pontos assinalados com excertos das suas obras criteriosamente seleccionados pelo Centro de Estudos Ferreira de Castro – que ao longo deste ano tem um programa de comemorações dos 100 anos do início da vida literária de um dos nomes maiores da literatura nacional do século XX.

O circuito completo tem 12,89 quilómetros e uma biblioteca em frente à casa-museu que Ferreira de Castro quis construir e oferecer à sua terra em 1973 com o dinheiro ganho em dois prémios literários em França. Deixou mais de 6000 livros e a indicação expressa que dali não sairiam. Deixou mais: ditados escritos à mão na escola primária, o diploma do 2.º grau do ensino primário, o passaporte com que partiu para o Brasil, quadros pintados pela sua segunda mulher, a artista espanhola Elena Muriel. E ainda a sua primeira foto com a seguinte legenda: “Primeira fotografia de Ferreira de Castro. Por ser muito pobre, só aos 17 anos foi fotografado em Belém do Pará”.

O roteiro é um percurso físico e emocional pelo arquivo que Ferreira de Castro fez questão de preservar. Em cada estação, uma paisagem, um edifício, e palavras do escritor que acompanham memórias. Recue-se ao passado, pois então. No rio Caima, e para lá se chegar passa-se por vários campos de cultivo, Ferreira de Castro tomava banho com os colegas nessas águas “frias e azuis” e “entre amieiros sussurrantes”. Com os amigos da escola construiu uma bicicleta de madeira. Fez umas andas que escondia no monte a meio caminho entre casa e escola, adorava apanhar as canas dos foguetes que caíam nos pinhais, ficava danado quando os seus papagaios não subiam tão alto como os que via na praia do Furadouro. No chafariz de Vermoim, brincava com o arco do pipo.

Maria Manuela, 75 anos, mora a dois passos da casa de Ferreira de Castro. Guarda as chaves da casa-museu há 45 anos, é a guia de serviço, e não esquece as visitas de Jorge Amado, José Saramago, Assis Esperança àquela habitação – e de outros políticos como Ramalho Eanes ou Mário Soares. Abre a porta do rés-do-chão para mostrar o lagar e os pipos e para lembrar que antigamente aquele piso era de terra batida. Abre o portão e mostra a placa que assinala que naquele lugar, ao lado da casa, existia um forno a lenha, o curral da cabra e um pombal. E sobe as escadas de pedra para abrir a porta de madeira velha. “Passava aqui horas sentado. Gostava muito de ficar sozinho a pensar”, recorda.

Olha para a floresta e avisa que por ali está uma árvore plantada pelo escritor que adorava a natureza. “Está ali um carvalho que plantou em 1940. Sempre que vinha cá, ia visitar o carvalho.” Chegava e ia dar uma volta à quinta. “E dizia ‘deixem-me estar aqui a meditar’.” A sua vontade era cumprida. Maria Manuela abre a porta que dá para uma pequena cozinha, depois a sala e dois quartos, um deles onde nasceu o escritor. Poucas divisões para tantas histórias. “Está tal e qual como era”, garante Maria Manuela, que chama a atenção para o par de sapatos e a mala com que o escritor pisou o mundo. Assim à vista desarmada, sem redomas de vidro, sem nada que trave o toque. Dentro de uma escrivaninha, o dicionário de capa vermelha de 1881 que levou para o Brasil e algumas fotos de antepassados ainda não identificados. Na cozinha, a louça da mãe. “Está tudo como era na infância dele, até está ali o barril que se usava naquela época para levar a água para o campo”, diz.

Maria Manuela foi escolhida por Ferreira de Castro para fazer de sua mãe num filme que contava a história da sua vida até à partida para o Brasil. Recorda-se de um homem introspectivo, pensativo, de cara fechada. “Não era uma pessoa alegre, tinha um ar triste. Era muito modesto, uma pessoa que não se gabava, tanto falava para um pobre esfarrapado como para um rico.” O ar tornou-se mais alegre depois do 25 de Abril. O escritor estava de regresso a Ossela e Maria Manuela viu-o diferente. “O dia em que o vi mais alegre foi na véspera de lhe dar o ataque.” Era 4 de Junho de 1974, no dia seguinte, na Pensão Suíça, em Macieira de Cambra, Vale de Cambra, onde passava grandes temporadas, o escritor sofre um acidente cardiovascular. Foi transportado para o Hospital de Santo António, no Porto, não recuperou e morreu a 29 de Junho. Foi enterrado em Sintra como era sua vontade.   

Terra doce, do coração

Com 12 anos, Ferreira de Castro partiu para o Brasil com lágrimas nos olhos e Margarida, o seu primeiro amor, no peito. A mãe despediu-se da janela com o adeus nas mãos. O pai tinha morrido há quatro anos. Do outro lado do Atlântico, trabalhou no seringal, passou fome, começou a escrever. Jornalista, escritor, homem das letras, viajou pelo mundo. Mas voltava sempre a Ossela, às raízes. Regressou a Portugal aos 21 anos e com 400 escudos no bolso. Passou algumas semanas com a família e partiu para Lisboa para tentar a sua sorte no jornalismo e nas letras, esteve doente com a morte à espreita algumas vezes, em 1958 foi convidado por um grupo de democratas para se candidatar à Presidência da República, e declinou o convite por sentir não ter capacidades para tal cargo. Em 1969, Jorge Amado propôs o seu nome para candidato ao Prémio Nobel da Literatura, aos 75 anos foi homenageado na Sociedade de Belas Artes de Lisboa.   

Aos seis anos, Ferreira de Castro entrou na escola primária de Ossela que faz parte do roteiro literário. Aluno brilhante, apaixonado por Margarida, a jovem de 17 anos que via passar da janela da escola e a quem escrevia cartas de amor. Envergonhado, metido com os seus botões. “Era de Inverno. Ia de chancas, friorento, enroupadito. Creio que foi a minha mãe quem me acompanhou até meio caminho. Não me recordo bem. Mas lembro-me, nitidamente, da minha entrada na escola. Lá estava, ao fundo, à secretária, instalada sobre um estrado, o professor Portela. Era gordo e de carne muito branca e fofa”, recorda nas suas memórias puxadas agora para este roteiro. “Sentei-me em uma carteira e, não tendo coragem de levantar os olhos, fixei-os no abecedário, que crescia e se deformava constantemente. Nesses primeiros dias, a minha única distracção era seguir as moscas que passeavam no sujo rebordo do tinteiro.” Era o melhor aluno que ansiosamente esperava ver o seu nome escrito no jornal da vila. Nunca apareceu, apenas os nomes dos filhos dos homens ricos da terra. Ficou destroçado. “Era como se não tivesse ido à escola, como não tivesse feito o exame, como se não existisse!”, escreveu.

E lá está a igreja velha onde foi baptizado e fez a comunhão, dia em que pronunciou o discurso religioso escrito pelo padre, decorado para a ocasião. O Ti Zé Moleiro fez parte da sua vida, esse homem de poucas palavras, sempre com o burro atrás, e com quem conversava sempre que regressava de Lisboa. O homem que, como escreveu, “representava a poesia humana da aldeia”. “(…) somente ao morrer de cada sábado abandonava o moinho, sem casaco, apenas de camisa, colete e calças, coberto por um chapéu largo de abas ensebadas e todo embranquecido de farinha; e, com um burro pela arreata, carregado de sacos de milho já moído, por atalhos atravessava metade da freguesia, para surgir à noitinha, já meio difuso e semifantasmal no lusco-fusco, à beira da estrada, onde tinha a sua casa e a família”.

O cemitério de Ossela também faz parte do roteiro. Ali estão enterradas os dois amores da sua vida. Diana de Lis, a sua primeira mulher, escritora de Évora, e Elena Muriel, segunda mulher, pintora espanhola e com quem deu a volta ao mundo.

José Rodrigues dos Santos é presidente da Junta de Freguesia de Ossela, filho de Maria Manuela, secretário da Associação dos Amigos de Ferreira de Castro. Conheceu o autor de Emigrante, de A Lã e a Neve, de A Missão. Ajudou-o na tarefa de colocar os livros na biblioteca, desenhou-o várias vezes pelo próprio punho. “Estivemos três meses a montar a biblioteca, foi tudo colocado pela mão dele”, lembra. Recorda-se dele sempre com o cigarrinho na boca e com vontade de beber café. “Havia uma coisa que ele dizia e que nunca mais esqueci: para nunca estarmos satisfeitos com aquilo que fazíamos, para ir mais além.” E ele, de uma família pobre, mostrou que era possível ir mais longe.

Ferreira de Castro colocou Ossela no mapa. No Guia de Portugal, editado em 1924, descrevia a terra do seu coração. “Cortado pelo rio Caima, debruado de amieiros e de salgueiros, o Vale de Ossela é uma série de rincões edénicos, onde a natureza veste as suas melhores galas, despretenciosamente, como se o fizesse por simples hábito. Torna-se necessário trilhar ínvios caminhos para surpreender todo o encanto da terra doce que parece contemplar-nos com uma meiguice sonhadora, uma ternura que não se esquece. Lá no fundo do vale, já nas fraldas da serra, divisa-se a Igreja Velha, o Mosteiro presumível lugar, outrora, de anacoretas contemplativos.” Nunca duvidou do respeito das gentes da sua terra. Sabia que os seus conterrâneos do concelho oliveirense guardariam as suas memórias. “(…) tratarão da Biblioteca com o mesmo amor com que eu a fundei e da humilde casita natal com o mesmo carinho que a vêm tratando até hoje, carinho que tantas vezes me tem comovido”, escreveu na carta de doação da  biblioteca ao município. E as gentes da sua terra estão a celebrar os 100 anos da sua vida literária. O ex-ministro da Educação Nuno Crato esteve na Secundária Ferreira de Castro, em Oliveira de Azeméis, a dissecar a obra A Curva da Estrada, depois disso exibiu-se um documentário sobre a sua vida e a casa-museu produzido por Mário Augusto. E, ao longo de 2016, haverá mais iniciativas na agenda.

Como chegar

Para chegar à Casa-Museu Ferreira de Castro, de Lisboa ou do Porto, pela A1 e A29, sair em Estarreja e seguir pela EN224 e IC2 em direcção ao centro de Oliveira de Azeméis, seguir novamente pela EN224 até à saída de Ossela. Do Porto, ir pela A32 até à saída de Oliveira de Azeméis e daí seguir até à saída de Ossela pela EN224. A Casa-Museu fica a 200 metros à direita da saída para Ossela da EN224.

Informações

O Centro de Estudos Ferreira de Castro avisa que não é difícil percorrer o trajecto, mas é um pouco exigente devido à sua tipologia com calçadas, caminhos, carreiros, travessia de ribeiros e pontes, subida e descida de rampas.

O roteiro literário pode ser feito individualmente, em qualquer altura, bastando para isso aceder aos separadores “Cultura” e “Roteiro Literário Caminhos de Ferreira de Castro” em www.cm-oaz.pt e com o auxílio e orientação da informação lá prestada, seguir as estações do percurso, assinaladas no terreno. As visitas com guia são promovidas de forma esporádica, complementares a outros eventos relacionados com o centenário da vida literária do escritor. Os interessados podem constituir um grupo com mais de 20 pessoas e propor, através do email património.cultural@cm-oaz.pt, a marcação de uma data para a realização do roteiro com a orientação de guia. Em qualquer uma das modalidades de visita, a participação é gratuita. »

(Sara Dias de Oliveira), FUGAS
30.04.2016

http://bit.ly/293AkNA

Henryk Górecki: Symphony No. 3 [“Symphony of Sorrowful Songs”], Op. 36


 Zofia Kilanowicz, Wit, Narodowa Orkiestra Symfoniczna Polskiego Radia w Katowicach

Lento - Sostenuto tranquillo ma cantabile • 27:10 Lento e Largo - Tranquillissimo - Cantabillissimo - Docissimo legatissimo • 37:28 Lento - Cantabile semplice

I. Lamentation of the Holy Cross Monastery (15th century)

[My son, chosen and loved,]
[Let your mother share your wounds]
 [And since, my dear son,]
 [I have always kept you in my heart,]
A takiez tobie wiernie sluzyla, [And loyally served you,]
 [Speak to your mother,]
 [make her happy,]
 [Though, my dear hope,]
 [you are now leaving me.]



 [Mother, no, do not cry,]
 [Queen of Heaven most chaste]
 [Help me always.]
 [Hail Mary.]


[Where has he gone,]
 [My dearest son?]
[Killed by the harsh enemy, perhaps,]
. [In the rebellion.]
 [You bad people,]
 [In the name of the Holy God,]
 [Tell me why you killed]
[My dear son.]

 [Never more]
 [Will I have his protection,]
[Even if I weep]
 [My old eyes away,]
[Or if my bitter tears]
 [Were to make another Oder,]
 [They would not bring back]
 [My son to life.]

[He lies in the grave]
 [I know not where]
[Though I ask people]
 [Everywhere]
[Perhaps the poor boy]
 [Lies in a rough trench]
 [Instead of lying, as he might,]
 [In a warm bed.]

 [Sing for him,]
[Little song-birds of God,]
 [For his mother ]
 [Cannot find him.]
[And God's little flowers,]
 [May you bloom all around ]
 [So that my son ]
 [May sleep happy.]

quinta-feira, 16 de junho de 2016

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Documentário - Portugal Terra - A Natureza em Portugal

Oceanos

Sixto Rodriguez - Sugar Man


Sixto Rodriguez - Sugar Man

1.Sugar man 0:00
2. Only Good For Conversation 3:54
3. Crucify Your Mind 6:22
4.This Is Not A Song, It's An Outburst 8:59
5. Hate Street Dialogue 11:11
6. Forget It 13:50
7. Inner City Blues 15:45
8. I wonder 19:14
9. Like Janis 21:52
10. Gommorah (A Nursery Rhyme) 24:32
11. Rich Folks Hoax 26:57
12. Jane S. Piddy 30:07

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Massive Attack - Protection



00:00 - Protection
07:49 - Karmacoma
13:07 - Three
16:56 - Weather Storm
21:56 - Spying Glass
27:18 - Better Things
31:34 - Euro Child
36:43 - Sly
41:42 - Heat Miser
45:47 - Light My Fire

terça-feira, 1 de março de 2016

Hiroshima - ''Hiroshima'' (1979)


Hiroshima - ''Hiroshima'' (1979)
00:00 ''Lion Dance''
05:50 ''Roomful of Mirrors''
09:25 ''Kokoro''
16:07 ''Long Time Love''
20:12 ''Da-Da''
26:45 ''Never, Ever''
30:42 ''Holidays''
34:04 ''Taiko Song''

http://youtu.be/pU9p5TPn5dc

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Cigarettes After Sex - S/T



Do You Where I should Go? 0:00
Every Light Is Out 5:30
I Can’t Stop These Tears From Falling 8:46
Lay Here 12:24
Our Last Day 16:06
Please Don’t Cry 20:22
Run Towards Your Fears 25:07
Sing 29:07
The Night Train 32:27
Woman With A Crow (the last train) 36:31
You 39:51

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

The Walkabouts - The Light Will Stay On


I go to sleep
Before the devil wakes
And I wake up
Before the angels take

All my worldly desires
All my yardsticks of fear
Hangin' down, hangin' down

I go to sleep
Before the devil wakes
And I wake up
Before the angels take

All my secrets untold, all my motives unclear
Hangin' down in the fire burnin' them higher
Won't take them away from here

And long after we're gone
The light will stay on
The light will stay on

Watched the city, city of crows
Watched them fly
Watched 'em all flyin' low

Out above the flood plain just above the dirt road
They were hungry as winter, hungry as us
Not afraid to be flyin', not afraid to be lost

And long after we're gone
The light will stay on
The light will stay on

And if you bury me add three feet to it
One for your sorrow, two for your sweat
Three for the strange things we never forget

And long after we're gone
The light will stay on
The light will stay on

And long after we're safe
The lights will not fade
The lights will not fade

domingo, 17 de janeiro de 2016

Barry Lyndon - Soundtrack (1975)



1. Sarabande Main Title (Georg Friedrich Handel) (0:00)
2. Women of Ireland (Sean O'Riada) (2:40)
3. Piper's Maggot Jig (Traditional) (6:53)
4. The Sea Maidens (Traditional) (8:37)
5. Tin Whistles (Sean O'Riada) (10:44)
6. British Grenadiers, Fife and Drums (Traditional) (14:28)
7. Hohenfriederberger March (Frederick the Great) (16:43)
8. Liliburlero, Fife and Drums (Traditional) (18:00)
9. Women of Ireland, Harp (Traditional) (19:08)
10. March from Idomeno (Wolfgang Amadeus Mozart) (20:04)
11. Sarabande Duel (Georg Friedrich Handel) (21:37)
12. Lilliburlero (Traditional) (24:52)
13. German Dance No.1 In C-Major (Georg Friedrich Handel) (25:47)
14. Sarabande Duel (Georg Friedrich Handel) (28:05)
15. The Cantina from Il Barbiere Di Saviglia, Film Adaptation (Giovanni Paisiello) (28:56)
16. Cello Concerto E-Minor, Third Movement (Antonio Vivaldi) (33:28)
17. Adagio from Concerto for Two Harpsichords And Orchestra in C-Minor (Johann Sebastian Bach) (37:21)
18. Piano Trio in E-Flat, Film Adaptation of the Opus 100 2nd Movement (Franz Schubert) (42:38)
19. Sarabande End Titles (Goerg Friedrich Handel) (46:56)

sábado, 16 de janeiro de 2016

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Journey-Dont Stop Believing


ust a small town girl, livin' in a
lonely world
She took the midnight train goin' anywhere...
Just a city boy, born and raised in
South Detroit
He took the midnight train goin' anywhere...

A singer in a smoky room, the smell
of wine and cheap perfume
For a smile they can share the night
It goes on and on and on and on...

Strangers, waiting, up and down
the boulevard
Their shadows searching in the night
Streetlight people, living just to
find emotion
Hiding, somewhere in the night

Working hard to get my fill,
everybody wants a thrill
Payin' anything to roll the dice,
Just one more time
Some will win, some will lose
Some were born to sing the blues
Oh, the movie never ends
It goes on and on and on and on

Strangers, waiting, up and down
the boulevard
Their shadows searching in the night
Streetlight people, living just to
find emotion
Hiding, somewhere in the night

Don't stop believin'
Hold on to that feelin'
Streetlight people

Don't stop believin'
Hold on to that feelin'
Streetlight people

Don't stop believin'
Hold on to that feelin'
Streetlight people