terça-feira, 30 de junho de 2015

Lykke Li - "Never Gonna Love Again"



https://youtu.be/O-tMD2Tqt5w

Lykke Li - "I Never Learn"


Lykke Li - "I Never Learn"
https://youtu.be/kwyJBFa4_5E

Johann Sebastian Bach (1685-1750) Sonatas for violon & obbligato harpsichord


Johann Sebastian Bach (1685-1750) Sonatas for violon & obbligato harpsichord Rachel Podger/Trevor Pinnock
  https://youtu.be/ZR8fnpb6pvo

Minha Mãe

Minha Mãe

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Canta a doce cantiga que cantavas...

Quando eu corria doido ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Nina o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora. Expulsa a angústia imensa
Do meu ser que não quer e que não pode
Dá-me um beijo na fonte dolorida
Que ela arde de febre, minha mãe.


Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.
Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão. que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu


Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Dize que eu fique
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me chama
Que eu estou com muito medo, minha mãe.


Vinicius de Moraes

Aría Casta Diva, de la ópera Norma, interpretada por Sondra Radvanovsky



https://youtu.be/EQZJxvD5cFs

segunda-feira, 29 de junho de 2015

João Lobo Antunes | Reflexões sobre Medicina, Literatura e Cultura


João Lobo Antunes | Reflexões sobre Medicina, Literatura e Cultura

O Médico Neurocirurgião Prof. Doutor João Lobo Antunes | Reflexões sobre Medicina, Ciência, Literatura e Cultura. 1º Encontro Literatura: Presente e Futuro, comissariada por Helena Buescu e Antonio Carlos Cortez, Centro Cultural de Belém. Conferência da Mesa "Educação do gosto literário e o diálogo entre Humanidades e Ciência". Janeiro de 2014, CCB.

https://youtu.be/jxfc9Jg7Btg

Música portuguesa del siglo XVI, interpretada por el grupo CIRCA 1500


Música portuguesa del siglo XVI, interpretada por el grupo CIRCA 1500, con el contratenor Gerard Lesne.

1. La folia 2. Machado: Dos estrellas le siguen 3. Ja nao podeis ser contentes 4. Perdi a esperanca 5. Cuydados meus tao cuidados 6. Testou minha ventura 7. Porque me nao ves Joana 8. Fantasia Fuenllana 9. Escobar / Mudarra: Clamabat autem mulier 10. Mudarra: Pavan & Galliard d'Alexandra 11. Escobar: Secaronme los pesares 12. Ninha era la infanta 13. Vos senora a maltratarme 14. Mis ojos tristes ihorando 15. Escobar: Gran plaser siento yo ya 16. Escobar Pasame por Dios barquero 17. Cardoso: Tantum ergo sacramentum 18. Coehlo: Tiento para arpa 19. Senhora del mundo 20. Nao tragais borzequis pretos 21. Machado: Paso a paso, empenos mios 22.Yo sonhava que me ablava 23. Puestos estan frente a frente

Intérpretes: Gérard Lesne (countertenor), Nancy Hadden (flute), Erin Headley (viol, lirone), Christopher Wilson (lute, guitar)
https://youtu.be/Yv8yR12jWgs

LASSUS - Chansons - CAPILLA FLAMENCA



https://youtu.be/fCyxskIRvUw

J. S. Bach - Tocata e Fuga em Re Menor BWV 565



https://youtu.be/oXVXiugDtII

AO VENTO


 O vento passa a rir, torna a passar,
Em gargalhadas ásperas de demente;
E esta minh′alma trágica e doente
Não sabe se há-de rir, se há-de chorar!
 Vento de voz tristonha, voz plangente,
Vento que ris de mim, sempre a troçar,
Vento que ris do mundo e do amar,
A tua voz tortura toda a gente!
 Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa essa dor a sós comigo,
E não rias assim!... Ó vento, chora!
 Que eu bem conheço, amigo, esse fadário
Do nosso peito ser como um Calvário,
E a gente andar a rir p′la vida fora!


 Florbela Espanca

John Hiatt " walk on"



https://youtu.be/QQk8g4jul98

John Hiatt - "Have a Little Faith in Me"


When the road gets dark
And you can no longer see
Just let my love throw a spark
An' have a little faith in me

An' when the tears you cry
Are all you can believe
Just give these loving arms a try, baby
An' have a little faith in me

CHORUS:
Have a little faith in me
Have a little faith in me
Have a little faith in me
Have a little faith in me

An' when your secret heart
Cannot speak so easily
Come here darlin' from a whisper start
Have a little faith in me

Duet: An' when your back's against the wall
Just turn around an' a you will see
Duet: I'll be there, I'll be there to catch your fall
So have a little faith in me

https://youtu.be/7aYxMuLb3h8

COSMIC CIRCUS ART BY SCOT ALPERT 2015



https://youtu.be/QxWy2ROv5ko

ABRAHAM HICKS- ASPECTOS DO AMOR



https://youtu.be/djyhDjgiDA0

O fogo, a água, e a confiança


 Era uma vez... o FOGO, a ÁGUA, e a CONFIANÇA.
Eles entraram numa floresta escura e o fogo disse:
- Se eu me perder procurem a fumaça, pois onde há fumaça, há fogo!
A água disse: - Se eu me perder me procurem na humidade,
pois onde onde há humidade há água!
Então a confiança disse: - Se eu me perder não me procurem,
pois uma vez perdida nunca mais me encontrarão...
 "A confiança é a base de todos os sentimentos",
nunca perca a confiança de ninguém, ela jamais volta.


 (Autor desconhecido)

domingo, 28 de junho de 2015

Poesia da Semana - Ano II: O Pássaro Azul (Charles Bukowski)


Poesia da Semana - Ano II: O Pássaro Azul (Charles Bukowski)
https://youtu.be/ul9XW4Gnrkw

Embriaga-te (Charles Baudelaire)


Embriaga-te
Devemos andar sempre bêbados.
Tudo se resume nisto:
é a única solução.
Para não sentires o tremendo fardo do Tempo,
que te despedaça os ombros e te verga para a terra,
deves embriagar-te sem cessar.

Mas com quê?
Com vinho, com poesia ou com a virtude, a teu gosto.
Mas embriaga-te.

E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas duma vala,
na solidão morna do teu quarto,
tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,
pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que se passou, a tudo o que gemeu, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala,
pergunta-lhes que horas são:

"São horas de te embriagares! Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto."

-Charles Baudelaire https://youtu.be/7OazEwiPwIY

Shape of Despair - Angels of Distress


1. Fallen 06:09
2. Angels of Distress 09:44
3. Quiet These Paintings Are 14:40
4. ...to Live for My Death... 17:22
5. Night's Dew 07:01

https://youtu.be/NcLxr3KpvR0

"There Is Sweet Music" - Arizona Girlchoir


The young women of Allegria in the Arizona Girlchoir sing "There Is Sweet Music," a poem by Alfred Lord Tennyson set to music by Daniel E. Gawthrop.

There is sweet music here that softer falls
Than petals from blown roses on the grass,
Or night-dews on still waters between walls
Of shadowy granite, in a gleaming pass;
Music that gentlier on the spirit lies,
Than tir'd eyelids upon tir'd eyes;
Music that brings sweet sleep down from the blissful skies.
Here are cool mosses deep,
And thro' the moss the ivies creep,
And in the stream the long-leaved flowers weep,
And from the craggy ledge the poppy hangs in sleep.


 - Alfred Lord Tennyson
https://youtu.be/m-ARRIot-eU
Condução sob o efeito de substâncias psicoactivas
Rocha Almeida

«A influência do álcool e de outras substâncias psicoactivas nas capacidades para conduzir veículos motorizados, como factores causais ou que contribuam para a ocorrência de acidentes de trânsito, tem suscitado grande número de estudos clínicos.

Importa salientar que vários estudos mostram que conduzir sob o efeito de substâncias psicoactivas ilícitas pode afectar a condução de várias maneiras: tempos de reacção mais lentos, comportamento errático e agressivo, fadiga, dificuldades de concentração e, mesmo, quadros mais graves como crises de pânico, tremores, tonturas ou paranóia.

Conduzir após o consumo de substâncias psicoactivas é frequente em Portugal. Segundo o estudo epidemiológico realizado em contexto rodoviário sobre a prevalência de álcool, drogas e alguns medicamentos em condutores de veículos da União Europeia, o projecto DRUID 2008/09, Portugal apresentou a quarta maior prevalência de qualquer substância psicoactiva (10%), superior à média dos condutores dos 13 países europeus incluídos no estudo (7,4%). Ainda segundo o estudo DRUID, a prevalência de opiáceos nos condutores portugueses foi de (0,2%) superior à média europeia (0,1%). O consumo de opiáceos causa alterações a nível cognitivo e psicomotor, mas estes efeitos estão dependentes do tipo e da dose do opiáceo consumido. Na verdade, temos de ter em consideração que para além do consumo ilegal de opiáceos, o mais frequente no nosso país é o consumo de heroína, há ainda um conjunto de medicamentos contendo opiáceos e que são utilizados, por exemplo, na patologia da dor ou da tosse, e como terapêutica de substituição nas situações de dependência (metadona ou buprenorfina). Alguns destes fármacos, administrados isoladamente ou em associação, podem influenciar negativamente as capacidades cognitivas e motoras para a condução de veículos motorizados, sem que estejamos na presença de um consumo ilícito.

Durante as décadas de 80/90 e ainda 2000, o consumo de opiáceos (heroína) teve um grande impacto na sociedade portuguesa. Os tratamentos de substituição tiveram e continuam a ter um importante papel para se conseguir tratar este grave problema e a OMS inclui os agonistas opióides, metadona e buprenorfina, como medicamentos essenciais por satisfazerem as necessidades prioritárias de saúde da população, por trazerem benefícios para a saúde individual e pública, pela evidência científica da sua eficácia e segurança e pelos benefícios custo/eficácia. Segundo o relatório da OEDT estavam em tratamento de substituição na Europa em 2012 cerca de 734 000 consumidores de opiáceos. Em Portugal serão mais de 20 000 os utentes em programas de substituição sendo que perto de 67% estão em programa de metadona.

Sabemos que muitos deles são condutores de veículos motorizados e daí haver uma investigação alargada à volta dos efeitos da metadona e da buprenorfina sobre alterações a nível psicomotor e o risco de acidentes. Os estudos revelam que o consumo de opiáceos afecta áreas importantes a nível cognitivo relacionadas com a capacidade de concentração e memorização, impulsividade e flexibilidade cognitiva. Estes défices observam-se em indivíduos que consomem de forma crónica opiáceos, seja como tratamento farmacológico ou em caso de tratamento de substituição.

No caso dos tratamentos de substituição existem diferenças entre a metadona e a buprenorfina que devem ser tidos em consideração no processo de tratamento e reinserção dos dependentes de heroína. O tratamento a longo prazo dos utentes que tomam buprenorfina parece implicar menos riscos dos que os que tomam outros opiáceos. Vários estudos indicam que as funções cognitivas eram melhores nos utentes a tomar buprenorfina que nos que tomavam metadona. Num artigo recente publicado na revista Adictologia um grupo de investigadores da Universidade de Aveiro comparou o tratamento com buprenorfina e metadona na população com mais de 50 anos de idade que frequenta o Centro de Respostas Integradas de Aveiro e a população normal. Para isso, utilizou várias escalas de avaliação das capacidades cognitivas e da qualidade de vida, tendo concluído que o grupo em programa de buprenorfina apresentou melhor desempenho cognitivo e melhor qualidade de vida no domínio psicológico (e.g. sentimentos positivos e negativos; autoestima; aprendizagem e espiritualidade), e no domínio ambiente (e.g. segurança física; recursos económicos; oportunidades de lazer; ambiente físico e cuidados de saúde e sociais), face ao grupo em programa de metadona. Salientam, ainda, que os utentes a tomar buprenorfina apresentam-se mais estabilizados, nomeadamente quanto à abstinência, gerindo de forma mais autónoma a medicação prescrita. Em face destas conclusões, fazem referência ao facto da acessibilidade a estes medicamentos ser diferente uma vez que o programa de metadona é totalmente gratuito e o de buprenorfina ser suportada pelo utente ou pela família o que origina utentes que podiam tomar buprenorfina podem não ter acesso a essa medicação devido a dificuldades financeiras para a adquirir. Por outro lado, estes utentes em programas de substituição estão a envelhecer e os défices cognitivos podem acentuar-se com a toma de certas medicações.

Nos consumidores de opiáceos os acidentes não são uma das causas importantes de mortalidade, mas os efeitos a nível cognitivo dos tratamentos de substituição devem ser considerados na hora de iniciar um tratamento. Neste sentido, é importante que os profissionais de saúde estejam conscientes destes problemas, oferecendo uma adequada informação ao utente e seleccionando adequadamente a medicação a prescrever.

Rocha Almeida, Médico Psiquiatra, Associação Portuguesa de Adictologia
28/06/2015 (PÚBLICO |Ano XXVI |nº 9205)

sábado, 27 de junho de 2015

Alexander Scriabin * Piano Concerto in F-sharp minor, Op. 20. Owen Zhou, piano



https://youtu.be/wraPo2VDZ3I

Encolhes os ombros, mas o tempo passa...

Encolhes os ombros, mas o tempo passa...
Ai, afinal, rapaz, o tempo passa!

Um dente que estava são e agora não,
Um cabelo que ainda ontem preto era,


 Dentro do peito um outro, sempre mais velho coração,
E na cara uma ruga que não espera, que não espera...

No andar de cima, uma nova criança
Vai bater no teu crânio os pequeninos pés.


 Mas deixa lá, rapaz, tem esperança:
 Este ano talvez venhas a ser o que não és...

Talvez sejas de enredos fácil presa,
Eterno marido, amante de um só dia...


 Com clorofila ficam os teus dentes que é uma beleza!
Mas não rias, rapaz, que o ano só agora principia...

Talvez lances de amor um foguetão sincero
Para algum coração a milhões de anos-dor


 Ou desesperado te resolvas por um mero
Tiro na boca, mas de alcance maior...

Grande asneira, rapaz, grande asneira seria
Errar a vida e não errar a pontaria...


Talvez te deixes por uma vez de fitas,
De versos de mau hálito e mau sestro,
E acalmes nas feias o ardor pelas bonitas
(Como mulheres são mais fiéis, de resto...)


Alexandre O'Neill

Alexander Scriabin: Symphony nº 3 "The Divine Poem" - Slobodeniouk - Sinfónica de Galicia


Alexander Scriabin (1872-1915): Sinfonía n.3 en do menor op.43
Lulles
Voluptés
Jeu Divin

Orquesta Sinfónica de Galicia
Dima Slobodeniouk, director
https://youtu.be/jbiU9lBPv7w

Prom 18: Beethoven Cycle -- Symphony No. 9, 'Choral'


Prom 18: Beethoven Cycle -- Symphony No. 9, 'Choral'
Symphony No. 9 in D minor, Op. 125
1 - Allegro ma non troppo, un poco maestoso
2 - Scherzo: Molto vivace -- Presto
3 - Adagio molto e cantabile -- Andante moderato -- Tempo primo -- Andante moderato -- Adagio -- Lo stesso tempo
4 - Recitative: (Presto -- Allegro ma non troppo -- Vivace -- Adagio cantabile -- Allegro assai -- Presto: O Freunde) -- Allegro molto assai: Freude, schöner Götterfunken -- Alla marcia -- Allegro assai vivace: Froh, wie seine Sonnen -- Andante maestoso: Seid umschlungen, Millionen! -- Adagio ma non troppo, ma divoto: Ihr, stürzt nieder -- Allegro energico, sempre ben marcato: (Freude, schöner Götterfunken -- Seid umschlungen, Millionen!) -- Allegro ma non tanto: Freude, Tochter aus Elysium! -- Prestissimo, Maestoso, Molto Prestissimo: Seid umschlungen, Millionen!

Anna Samuil soprano
Waltraud Meier mezzo-soprano
Michael König tenor
René Pape bass
National Youth Choir of Great Britain
West-Eastern Divan Orchestra
Daniel Barenboim, conductor
Royal Albert Hall, 27 July 2012

https://youtu.be/sJQ32q2k8Uo

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Robert Schumann (May, sweet May)



https://youtu.be/ZDz40YQyPa4

Robert Schumann - Album for the young - «Álbum para a juventude»


Robert Schumann - Joseph Nagy, piano
Album for the young Op. 68

«Album for the Young (Album für die Jugend), Op. 68, was composed by Robert Schumann in 1848 for his three daughters. The album consists of a collection of 43 short works. Unlike the Kinderszenen, they are suitable to be played by children or beginners. The second part, starting at Nr. 19 (Kleine Romanze), is marked Für Erwachsenere (For adults; For more grown-up ones) and contains more demanding pieces.»

Tracklist:
01 Melody
02 Soldiers' March 1:04
03 Humming Song 2:08
04 Chorale 3:00
05 A little piece 4:11
06 The poor orphan 5:01
07 Hunting song 6:35
08 The wild rider 7:39
09 Folk song 8:13
10 The happy farmer, returning from work 9:41
11 Sicilienne 10:26
12 Knecht Ruprecht 12:07
13 May, sweet may 14:31
14 Little etude 16:17
15 Spring song 18:43
16 First sorrow 20:33
17 The little morning wanderer 22:08
18 The reaper's song 23:20
19 Little romance 24:33
20 Rustic song 25:35
21 Untitled 27:13
22 Roundelay 29:06
23 The Horseman 30:49
24 Harvest song 32:08
25 Echoes from the theatre 33:25
26 Untitled 35:06
27 A little canon 37:09
28 Remembrance 38:51
29 The stranger 40:51
30 Untitled 43:30
31 Song of war 46:22
32 Sheherazade 47:33
33 Gathering of the grapes, happy time 50:49
34 Theme 52:25
35 Mignon 54:33
36 Italian mariners' song 58:05
37 Sailors' song 59:20
38 Wintertime I 1:01:26
39 Wintertime II 1:03:32
40 Little fugue 1:07:23

https://youtu.be/IM_t8o3JLtQ

Robert Schumann - Piano Concerto in A Minor, Op.54 (Mvt. I) - Sviatoslav Richter


Robert Schumann
Piano Concert in A Minor, Op.54 - Mvt. II (Intermezzo / Andantino grazioso)
Sviatoslav Richter: piano
Orchestre National de l'Opéra de Monte Carlo
Lovro von Matačić: conductor
https://youtu.be/f1lUdcnmRCI

Robert Schumann - Concerto para Piano e Orquestra em Lá menor


OJVM - Orquestra Jovem Vale Música e Coral Vale Música - Sala Augusto Meira Filho - 09.11.2011 - Projecto Sons da Amazónia II - Regência Miguel Campos Neto - Fundação Amazónica de Música - FAM - Musikart Produções Culturais - Solista Nelson Freire
https://youtu.be/BubluX-ebVY

Clara Schumann - Piano Works [selection]


00:00 - Valses romantiques Op.4
07:37 - Romances Op.11
20:53 - Prelude & Fugue in F# minor
25:09 - Romance in B minor
30:40 - Romance in A minor

Jozef De Beenhouwer
https://youtu.be/9QJnb1EXnEg

«L'infinito»

Giacomo Leopardi
(Recanati, 29 de junho de 1798 — Nápoles, 14 de junho de 1837)


 
Um dos seus poemas mais conhecidos é L'infinito:
...
Sempre me foi cara esta erma colina
e esta sebe, que por toda a parte
do último horizonte o olhar exclui.
Mas sentando e admirando, intermináveis
espaços para lá dela e sobre-humanos
silêncios, e profundíssima quietude
eu no pensamento me finjo; onde por pouco
o coração não me amedronta. E como o vento
ouço sussurrar entre estas plantas, eu aquele
infinito silêncio a essa voz
vou comparando: e me sobrevém o eterno
e as mortas estações e a presente
e viva, e o som dela. Assim entre esta
imensidão se afoga o pensamento meu;
e o naufragar é-me doce nesse mar.

 

Johannes Brahms: Requiem



https://youtu.be/MAnUk6MxXQ0

Noye's Fludde ("A Arca de Noé") - Benjamin Britten


Il Barone Edward Benjamin Britten (Lowestoft, 22 novembre 1913 -- Aldeburgh, 4 dicembre 1976) è stato un compositore, direttore d'orchestra e pianista britannico.

«Con Owen Brannigan, Emanuel Hurwitz, Sheila Rex, Trevor Anthony & English Chamber Orchestra; la storia di quest' opera é la storia dell' Arca di Noè; in inglese Noye(=Noè)'s fludde(=diluvio) (il diluvio di Noè); che deve portare la sua famiglia (moglie e 3 figli, i quali al tempo di Britten erano interpretati da maschi ma ormai da femmine perché non si impara più a cantare in tenera età) e un coppia di ogni specie animale perché tutti gli esseri viventi sulla Terra non vivono secondo le indicazioni di Dio (la voce che recita) ovvero l'umiltà, la generosità, l'altruismo...

Ricerca immagini, montaggio e regia: Niccolò Gossi

Mi scuse se la qualità delle immagini non é delle migliori ma ricordo di andare a vedere il punto (23:50), la tempesta.

————————————————————————————————————————­————
Baron Edward Benjamin Britten (Lowestoft, November 22, 1913 - Aldeburgh, December 4, 1976) was a composer, conductor and pianist British.

With Owen Brannigan, Emanuel Hurwitz, Sheila Rex, Trevor Anthony Inglese & Chamber Orchestra; the story of this ‘work is the story of' Noah's Ark; who must take his family (wife and three children, who at the time of Britten were played by males but now females because you do not learn more singing at an early age) and a pair of each animal species because all living beings on earth does not live according to the signs of God (the voice that reads) or humility, generosity, altruism ...

Search images, editing and direction: Niccolò Gossi

I apologize if the image quality is not the best but I remember going to see the point (23:50), the storm.*

https://youtu.be/ughJeJ4LJD0

O PASSARITO E O PASSARÃO

«QUERO QUE O PASSARÃO SALTE DO GALHO»

 • Clara Ferreira Alves, O PASSARITO E O PASSARÃO [ no Expresso/Revista]:
«(…) Não esqueçamos o caso Tecnoforma. Não p...
elo caso em si, ou pelas quantias envolvidas ou sonegadas, pessoalmente estou-me nas tintas para os mil contitos do PASSARÃO. O que convém não esquecer, dada a falta de memória que por aí vai, é que o PASSARÃO ganhou as eleições com um argumento: eu vou limpar Portugal de gente que trepa e se aproveita do Estado e assim faz descambar as balanças. Eu vou varrer os oportunistas, os papa-subsídios, os proventos de mão esquerda, os funcionários públicos bissextos, os tipos que enterraram o país na dívida e agora não são capazes de o governar obedecendo aos preceitos da Alemanha benfeitora. Eu vou ser o salvador da pátria. Eu sou impoluto e limpo de coração, não tenho fortuna pessoal, sou remediado e renunciei a subvenções vitalícias, férias no estrangeiro e salmão em executiva. A minha cidade preferida é Vila Real (quando o PASSARÃO disse isto, eu soube logo que ele estava a mentir... adiante).
Este o argumento. Com o dizia a defunta Mrs.Thatcher, primeiro ganha-se o argumento e depois ganha-se o voto. É este o processo. O PASSARÃO nem chegou a ganhar o argumento. Atirou-se de cabeça ao voto. Mostrou o plano, anunciou com aquela voz de tenor que a gravata não tinha nódoas e sentou-se à mesa. Sentou ao lado direito, ao lado de deus pai, o PASSARÃO maior, conhecido por gostar de relva fresca. Ora, o bom povo português já esqueceu as estupendas trapalhadas destes dois e confessa a sua admiração com a escassa obra beneficente do Centro Português de Cooperação e o seu presidente Passos PASSARÃO, mais a mecenas Tecnoforma e o seu offshore em Jersey (por uma vez, não é nas Ilhas Caimão, e no ponto em que estamos, acho admirável) fora o subsídio de reintegração e a fuga aos impostos através desse subterfúgio de funcionários chamado despesas de representação. Isto não é o importante, muita gente apresentou despesas de representação e papou subsídios. Muita gente quis fugir ao braço longo do Estado papão. Muita gente abriu empresas num dia para sacar fundos europeus para as fechar no dia seguinte quando os fundos secaram. A diferença é que essa gente pecadora não anda por aí de mão no peito a ganhar o voto e a chamar piegas aos portugueses e a dizer que somos um povo de cigarras que não quer trabalhar.
O PASSARÃO que me perdoe mas a cigarra é um animal simpático. Já um PASSARÃO que apresenta como currículo uma carreira à sombra dos tutores do partido e das baldas do partido, não devia apregoar a virtude (nem dizer que Vila Real etc., etc.). Muito menos devia andar com más companhias que recrutam espiões para serviço próprio e vendem o país a retalho sob a manta da "cooperação" e da premência da "ajuda externa". O que o PASSARÃO tem feito, estes meses todos, é revender Portugal a interesses obscuros e cobrar impostos. Não confio nele para tal missão. Nem nele nem nos passarocos aplicados e prístinos que o rodeiam. Não quero que o PASSARÃO venda a TAP, agora. Nem as Águas de Portugal. Nem o que falta vender antes que a legislatura termine. Quero que o PASSARÃO salte do galho.»

Muse - Aftermath


Muse - Aftermath

War is all around
I'm growing tired of fighting
I've been drained and
I can't hide it
But I have strength for you
You're all that's real anymore
I am coming home now
I need your comfort

From this moment
From this moment
You will never be alone
We're bound together
Now and forever
The loneliness has gone

States are crumbling
Walls are rising high again
It's no place for the faint-hearted
But my heart is strong
Because now I know where I belong
It's you and I against the world
We are free

From this moment
From this moment
You will never be alone
We're bound together
Now and forever
The loneliness has gone

We've gone against the tide
All we have is each other now
I'm coming home now
I need your comfort

From this moment
From this moment
You will never be alone
We're bound together
Now and forever
The loneliness has gone

From this moment
From this moment
You will never be alone
We're bound together
Now and forever
Loneliness has gone

From this moment
From this moment
You will never be alone
We're bound together
Now and forever
The loneliness has gone

We're bound together
Now and forever
Loneliness has gone. https://youtu.be/N68lzHnKqfM

quarta-feira, 24 de junho de 2015

O florir do encontro casual

Álvaro de Campos

 

O florir do encontro casual
Dos que hão-de ficar sempre Estranhos...
O único olhar sem interesse recebido no acaso
Da estrangeira rápida...
O olhar de interesse da criança trazida pela mão
Da mãe distraída...
As palavras de episódio trocadas
Com o viajante episódico
Na episódica viagem...
Grandes mágoas de todas as coisas serem bocados...
Caminho sem fim...
 
30-4-1926
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa.

Mazzy Star - "Fade Into You"


Mazzy Star - So Tonight That I Might See



https://youtu.be/-uJ61jgFCMM

J.S. Bach - Fantasia cromatica e fuga (1) BWV 903 - Amaya Fernandez Pozuelo


J.S. Bach - Fantasia cromatica e fuga (1) BWV 903 - Amaya Fernandez Pozuelo
  https://youtu.be/TASANBNytNY

Hope Sandoval - "Through the Devil Softly"


Hope Sandoval - "Through the Devil Softly"
Blanchard 0:00
Wild Roses 5:00
For The Rest Of Your Life 8:39
Lady Jessica And Sam 14:19
Sets The Blaze 18:49
Thinking Like That 21:19
There's A Willow 26:05
Trouble 31:12
Fall Aside 36:35
Blue Bird 41:23
Satellite 46:35

https://youtu.be/qfvi2XPpqMo

Milladoiro "Gallaecia Fulget"



https://youtu.be/0MQ5Ylx0__M

No niño novo do vento. Álvaro Cunqueiro

 No niño novo do vento. Álvaro Cunqueiro

No niño novo do vento
hai unha pomba dourada,
meu amigo!
Quén poidera namorala!
Canta ao luar e ao mencer
en frauta de verde olivo.
Quén poidera namorala,
meu amigo!
Ten áers de frol recente,
cousas de recén casada,
meu amigo!
Quén poidera namorala!
Tamén ten sombra de sombra
e andar primeiro de río.
Quén poidera namorala,
meu amigo!

CUNQUEIRO, Álvaro, Cantiga nova que se chama Riveira, en Obra en galego completa, Vigo, Ed. Galaxia, 1980.

terça-feira, 23 de junho de 2015

«O Julgamento»


«O filme conta uma história de três amigos que reencontram um ex-inspector da PIDE (antiga polícia política) que torturou um antigo companheiro deles antes do 25 de Abril.
"Eu queria falar de algo que atormentou o país, porque faz parte da nossa realidade", afirmou o realizador Leonel Vieira na apresentação oficial do filme, em Lisboa.
As filmagens de "O Julgamento"  contaram com as participações de Júlio César, Henrique Viana, José Eduardo, Carlos Santos, Alexandra Lencastre e Fernanda Serrano.
Sem querer dar lições de moral ou ser faccioso em relação ao passado, a intenção de Leonel Vieira foi contar "uma história de emoções e conflitos que prendesse o espectador".
Fernanda Serrano disse que este é um filme "intimista, que fala sobre o amor, as emoções e a injustiça", enquanto Alexandra Lencastre o descreveu como "não retórico e de acção".
"O filme conta uma histórica daquelas que parecem estar proibidas ainda num Portugal democrático", reforçou Júlio César.

"O Julgamento" é a sexta longa-metragem realizada por Leonel Vieira, depois de "Um tiro no Escuro" (2005), "A Selva" (2002), "A Bomba" (2001), "Zona J" (1998) e "A Sombra dos Abutres" (1998).
Leonel Vieira, produtor de "Um Filme da Treta", de José Sacramento, irá ainda adaptar ao cinema o primeiro romance de José Rodrigues dos Santos, "A Ilha das Trevas".»

https://pt.wikipedia.org/wiki/Julgamento_(filme)***https://youtu.be/yc0NN1iwq9s

I - Vem, Noite antiquíssima e idêntica,

Álvaro de Campos

I - Vem, Noite antiquíssima e idêntica,

DOIS EXCERTOS DE ODES
(FINS DE DUAS ODES, NATURALMENTE)
I
......
Vem, Noite antiquíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio. Noite
Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.
Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem sozinha, solene, com as mãos caídas
Ao teu lado, vem
E traz os montes longínquos para o pé das árvores próximas.
Funde num campo teu todos os campos que vejo,
Faze da montanha um bloco só do teu corpo,
Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo.
Todas as estradas que a sobem,
Todas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe.
Todas as casas brancas e com fumo entre as árvores,
E deixa só uma luz e outra luz e mais outra,
Na distância imprecisa e vagamente perturbadora.
Na distância subitamente impossível de percorrer.
Nossa Senhora
Das coisas impossíveis que procuramos em vão,
Dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela.
Dos propósitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas
Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto.
E que doem por sabermos que nunca os realizaremos...
Vem, e embala-nos,
Vem e afaga-nos.
Beija-nos silenciosamente na fronte,
Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma.
E um vago soluço partindo melodiosamente
Do antiquíssimo de nós
Onde têm raiz todas essas árvores de maravilha
Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos
Porque os sabemos fora de relação com o que há na vida.
Vem soleníssima,
Soleníssima e cheia
De uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena.
E todos os gestos não saem do nosso corpo
E só alcançamos onde o nosso braço chega,
E só vemos até onde chega o nosso olhar.
Vem, dolorosa,
Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos,
Turris-Eburnea das Tristezas dos Desprezados,
Mão fresca sobre a testa em febre dos humildes.
Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados.
Vem, lá do fundo
Do horizonte lívido,
Vem e arranca-me
Do solo de angústia e de inutilidade
Onde vicejo.
Apanha-me do meu solo, malmequer esquecido,
Folha a folha lê em mim não sei que sina
E desfolha-me para teu agrado,
Para teu agrado silencioso e fresco.
Uma folha de mim lança para o Norte,
Onde estão as cidades de Hoje que eu tanto amei;
Outra folha de mim lança para o Sul,
Onde estão os mares que os Navegadores abriram;
Outra folha minha atira ao Ocidente,
Onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o Futuro,
Que eu sem conhecer adoro;
E a outra, as outras, o resto de mim
Atira ao Oriente,
Ao Oriente donde vem tudo, o dia e a fé,
Ao Oriente pomposo e fanático e quente,
Ao Oriente excessivo que eu nunca verei,
Ao Oriente budista, bramânico, sintoísta,
Ao Oriente que tudo o que nós não temos.
Que tudo o que nós não somos,
Ao Oriente onde — quem sabe? — Cristo talvez ainda hoje viva,
Onde Deus talvez exista realmente e mandando tudo...
Vem sobre os mares,
Sobre os mares maiores,
Sobre os mares sem horizontes precisos,
Vem e passa a mão pelo dorso da fera,
E acalma-o misteriosamente,
Ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito!
Vem, cuidadosa,
Vem, maternal,
Pé antepé enfermeira antiquíssima, que te sentaste
À cabeceira dos deuses das fés já perdidas,
E que viste nascer Jeová e Júpiter,
E sorriste porque tudo te é falso e inútil.
Vem, Noite silenciosa e extática,
Vem envolver na noite manto branco
O meu coração...
Serenamente como uma brisa na tarde leve,
Tranquilamente com um gesto materno afagando.
Com as estrelas luzindo nas tuas mãos
E a lua máscara misteriosa sobre a tua face.
Todos os sons soam de outra maneira
Quando tu vens.
Quando tu entras baixam todas as vozes,
Ninguém te vê entrar.
Ninguém sabe quando entraste,
Senão de repente, vendo que tudo se recolhe,
Que tudo perde as arestas e as cores,
E que no alto céu ainda claramente azul
Já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem,
A lua começa a ser real.
 
30-6-1914
 
“Dois Excertos de Odes (Fins de duas odes, naturalmente)”.
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).
- 155.
1ª publ. in Revista de Portugal, nº4. Lisboa: Jul. 1938.

António Lobo Antunes*

Domingo de manhã. Abro ao acaso (a melhor forma de tomar o pulso a um livro), um volume das Crónicas.

Página 157: “E agora a noite e eu sem dar por ela. Ainda há um minuto, se tanto, estava muito bem aqui sentada e era dia, o merceeiro aberto, um homem a brincar com o cão, metade da rua
(a metade de lá)
ao sol, a velha do costume a assistir a nada do peitoril porque não se passa nada no bairro, nem uma briga, nem uma discussão, nem uma dessas mulheres que caminham como cordas que se desenrolam, deixando atrás de si um rastro de assobios de homens, as ordinarices que lhes rebentam na própria boca e as sujam a eles à maneira dos balões das pastilhas elásticas”.


“A assistir a nada do peitoril”. Bairro de Benfica, sessenta anos atrás. Na taxonomia moderna, a ultraperiferia de Lisboa. Numa casa velha de mais de cem anos, ao que consta, ao tempo uma escola, (daí nome da rua que nos envergonhava na adolescência: – “Travessa do Vintém das Escolas”). O quarto era pequeno: duas camas, duas cadeiras, duas estantes. Na parede do meu lado uma fotografia de Charlie Parker e o seu saxofone, em que nem o chiaroscuro da prova, esconde um olhar que contem toda a tristeza do mundo. Num escrito dedicado ao Pai, que no fim da vida se mudara para o nosso quarto, António escrevera que a fotografia lhe lembrava uma frase de Van Gogh ao irmão: “Sofremos por conta de uma porção de malandros e safados”. Em cada estante uma biblioteca miniatura. Na de António os volumes alinhavam-se em sentido, e se notava qualquer desvio, protestava porque eu lhe mexera nos livros. De facto, crescemos mais com livros que com brinquedos.
A licenciatura em medicina fora uma solução feliz. Afinal era preciso que se formasse em qualquer coisa, que tivesse para sobreviver uma “enxada”, metáfora tanto ao gosto de nossa Mãe. Assim ele se tornou-se psiquiatra, a mais literária – por vezes mesmo só literária… – das especialidades médicas. Afinal a ligação entre a medicina e a literatura é tão antiga quanto a própria medicina. Apolo, o deus da poesia, era pai de Asclépio, deus bastardo da medicina. Para Chekhov esta era a mulher legítima e a literatura a amante. No caso de António são ambas, ao mesmo tempo, mulheres e amantes. Como escrevia Torga, que habitava nas nossas duas bibliotecas, no Diário em 20 de Janeiro de 1961, quando lhe perguntavam porque seria que a medicina “dava” (era o termo) tantos escritores, ele respondia “- Não é ela que os dá. Limita-se simplesmente, a preservar esse dom aos que nasceram com ele, o que já não é pouco. (…) Por isso quando se sobrepõe a uma vocação criadora uma condenação clínica, não há dramas sangrentos.”         Cumpriu o curso com ajuda de uma fenomenal memória, arma que ele celebrou no seu primeiro livro – Memória de Elefante – e que ele musculou toda a vida. Os jantares de família eram – e agora que partiu o Pai, e ele ocupa a cadeira de braços, continuam a sê-lo – , uma espécie de concerto de amadores, uma “desfolhada” de poesia ou de longos nacos de prosa de Eça a O’Neill. Saber de cor é etimologicamente, saber com o coração. George Steiner, um dos maiores admiráveis “maîtres à penser” do nosso tempo, e um admirador devotado de António, nota que nem a censura nem a polícia secreta conseguiram calar a poesia decorada, e os poemas de Mandelstam sobreviveram de boca em boca, e os “rabis” nos campos da morte eram livros vivos, abertos à consulta dos outros prisioneiros.
Parece ser comum saudar-se hoje o escritor inculto e ignorante, elogiar a escrita que não passa de um mero exercício de um virtuosismo mundano. Para estes, a cultura não só é inútil, como, quem sabe, perigosa. Nada ficará destes escritores de palavras. Pelo contrário, a cultura de António sempre foi alimentada por um apetite insaciável e omnívoro, e ele é, embora o tente esconder, um erudito. A sua cultura tem-lhe servido sobretudo como instrumento de pesquisa das vidas, todos os sentidos convocados por uma curiosidade sem fim, um ouvido apuradíssimo para todo o linguajar, um olhar sorrateiro que parece dormir, mas é tão traiçoeiro como o dos crocodilos que meio submersos vão espiando a vítima. Depois, consolado, mergulha na profundidade de si próprio, como dizia outro poeta médico, William Carlos Williams. Ao mesmo tempo, preserva vivíssima a capacidade de se rir de tudo, e de todos, incluindo ele próprio, e o poder inesgotável de se espantar, que é apanágio dos cientistas da melhor cepa.
Depois de vinte e cinco anos de vida em comum, percorridos em órbitas secantes, cada um seguiu o seu caminho. Ele para África, eu para Nova Iorque. A experiência de África foi decisiva. Atrevo-me a pensar que fez dele um homem e, sobretudo, um escritor. Susan Sontag, e cito-a porque, tal como António, foi distinguida com um dos prémios literários de mais nobre projecção, o Jerusalem Prize, (que no caso do António mereceu entre nós apenas uma menção distraída), escrevia no livro que publicou pouco antes de morrer – “War is a man’s game (…) the killing machine has a gender and it is male”. A escrita de António tem o mesmo género, é claramente masculina, mas também, em surpreendente paradoxo, provavelmente poucos põem como ele uma mulher a falar sem que soe como falsete de “travesti”, ou burla de boneco de ventríloquo.
Anos depois, vivia eu então sozinho em Nova Iorque, António foi até lá apresentar um livro, “Os cus de Judas”, crismados agora “South of Nowhere”. Aliás a reincarnação da sua prosa nas línguas mais diversas, a traduzibilidade da sua escrita – e o neologismo é forçado -, é marca distinta do seu génio e da universalidade da sua prosa. Uma confidência: quando em país estrangeiro entro numa livraria (e faço-o sempre, porque alguém me ensinou a marcar cada viagem pela compra de um livro), procuro as suas obras. A última vez foi em Itália e encontrei-o num canon que compilava os livros que era indispensável ler antes de morrer – neste caso era “O Fado Alexandrino”.
Foi nesses dias em que vivemos juntos, só os dois, numa casa grande, que eu o vi na prática do seu oficio. Embrulhado num lençol de banho, ele escrevia, escrevia, em folhas pequenas (muitas vezes o fez no papel de receita do manicómio Bombarda, onde enfermeiras indiscretas lhe segredavam as histórias do “paizinho” que lá fora médico toda a vida), uma caligrafia belíssima e miniatural, como a de um contínuo do liceu onde andámos, que ia escrevendo a Bíblia em bilhetes postais, frases em espirais ou volutas ou ainda em blocos orientados segundo os eixos mais variados, por vezes em mais de uma cor, papiros depois entregues a paciente decifração por outros escribas.
E assim, ao longo dos anos, nos fomos aproximando, num entendimento silencioso e cúmplice do mister de cada um, ele que escreve, explicou um dia, por não saber dançar como Fred Astaire, quando afinal sabe, no sapatear incansável de uma voz singular na literatura portuguesa.
Até que um dia o destino que se deleita a bisbilhotar a fisiologia intima dos sentimentos, e expor descarnados os laços mais fundos que unem os homens, lhe enviou o primeiro recado da sua mortalidade, e eu vivi durante longos dias o soluço da sua aflição, pois sabia mais que ele sobre o tudo que lhe podia acontecer. E, de súbito, uma crónica angustiada acordou uma multidão inquieta e solícita – e alguns me escreveram, pedindo a minha intercessão – que parecia depender da sua escrita como alimento do espírito e consolo da alma, extensíssima família de gente anónima que toma aquilo que ele escreve como uma carta secreta que só eles lêem .
Surge então o convite, que rompia praxes e porventura perturbava de forma insólita a liturgia destes actos, para lhe servir de padrinho nesta cerimónia na universidade da admirável terra de Torga, cujo centenário, em coincidência feliz, agora se celebra.
Mas a universidade aceitou o capricho deste filho que hoje adopta, e fê-lo com tal elegância que não me senti obrigado a justificar a impertinência de ter acedido ao pedido de meu irmão, em parte também porque sou, medularmente, um académico, e estou por isso sempre no meu mundo, em qualquer universidade em que entro.
Num dos mais clássico dos ensaios sobre a missão da universidade, José Ortega y Gasset fala de duas funções principais: o ensino das profissões intelectuais e a investigação cientifica e a preparação dos futuros investigadores. Recorda que a universidade medieval não investigava e ocupava-se muito pouco das profissões – tudo era “cultura geral”, teologia, filosofia, “artes”. É, no fundo a universidade medieval que hoje aqui renasce, nesta celebração da vagabunda ocupação de escrever. Porque, afirma D. José, a cultura é o que nos salva do “naufragio vital”: “no podemos vivir humanamente sin ideas”, e temos de conter o “nuevo bárbaro”, “el profesional mas sabio que nunca, pero mas inculto también – el ingeniero, el medico, el abogado, el científico”. Quase um século antes, Henry, Cardeal Newman, numa outra obra fundamental, “The Idea of University” chamava a atenção para a importância do conhecimento “como um fim em si mesmo”, citando Cícero para quem isto dizia respeito, em primeiro lugar e acima de tudo, à natureza humana. Disse alguém que é a literatura que melhor revela o sentido das coisas que não são redutíveis a teoremas, que protesta contra a tirania da abstracção e por isso desempenha um papel insubstituível na compreensão do sofrimento humano. Esta cerimónia celebra pois a “umana cosa” com que Boccacio inicia o seu Decameron. É a celebração da força da palavra com que se escreve o amor e o ódio, as virtudes teologais e os pecados capitais, o desprezo absoluto e a indizível ternura, as grandes pulsões do espírito e os sentimentos mais microscópicos, o grito e o murmúrio, o sublime e o ridículo, o que é visível e o que se esconde por detrás da aparência mais inocente, a mais nobilíssima visão e a mais abjecta confidência. De tudo isto e muito mais, António tratou, usando um instrumento de admirável ductilidade que é a língua portuguesa, língua que ele, reconhecem-no os especialistas, constantemente reinventa, e por isso ele é, na contemporaneidade, o grande inovador da nossa linguagem. E a abundância daqueles que o imitam é a prova da sua mestria, pois o “imitatio” é sempre consequência inevitável do verdadeiro magistério.
Italo Calvino quando procurava explicar a razão porque se devem ler os clássicos e a forma de os reconhecer citava, entre outros critérios, que o clássico quando lido a primeira vez nos dá a sensação de já termos lido antes. Isto sucede na obra de António porque – e este é um outro critério – o que ele escreve diz respeito a todo um universo, o que lhe dá um peso talismânico, e se a sua criação descobre um mundo que inventou novas formas de martírio e de solidão, o mundo da modernidade áspera, indiferente, dos encontros que nunca floriram, ele deu voz a quem nunca a teve na ficção contemporânea. Por ele falam assim os mudos que ninguém quer escutar.

Ainda Domingo de manhã. Volto de novo às Crónicas
Recuo quatro páginas e leio:

“Gosto de Virgínia Woolf não tanto pelos livros mas porque ouvia os pássaros cantando em grego, eles que normalmente como toda a gente sabe, usam o egípcio quando em liberdade e o latim nos poleiros.
Em que língua comunicam connosco os pássaros de vidro? E os de feltro em gaiolas doiradas, da loja dos chineses ao pé do sitio onde escrevo?
Os pombos cantam rodas dentadas de relógio avariado. O relógio de parede da casa de meu avô não cantava: limitava-se a anunciar
– Sou gordo, sou gordo
a cada badalada pomposa”

Entretanto, digo-vos eu, os neurobiologistas estão preocupados, como ele, com a explicação dos pássaros, investigando se o som dos pássaros é musica ou linguagem. O rouxinol, por exemplo, organiza os elementos das suas canções em hierarquias e segue regras no modo como as constrói semelhantes às que usamos na sintaxe. Outros pássaros, da família das cotovias, têm um reportório de mais de vinte mil canções que nunca repetem.
Sentado à sua mesa, António ouve outros ruídos e termina a crónica que começou com os pássaros de Virgínia Woolf:

“Carros de polícia lá fora, bombeiros: uma mulher em roupão, no telhado do prédio em frente, previne aos gritos que se vai atirar dali abaixo. Atirar-se-á?”

E assim fica suspensa a pergunta que nunca terá reposta, porque a resposta não pode existir, pois é a interrogação perpétua que alimenta a escrita, essa perseguição de um infinito só ao alcance dos eleitos. E é um eleito que esta Universidade agora acolhe, aceitando como prova, em invulgar circunstância, o humilíssimo testemunho de um irmão.

João Lobo Antunes, "O Eco Silencioso" gradiva

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Elogio do padrinho no acto do doutoramento Honoris Causa  pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro de António Lobo Antunes, 2007

William Shakespeare - Soneto 1

Soneto 1
William Shakespeare


Dentre os mais belos seres que desejamos enaltecer,
Jamais venha a rosa da beleza a fenecer, 

Porém mais madura com o tempo desfaleça,
Seu suave herdeiro ostentará a sua lembrança;


Mas tu, contrito aos teus olhos claros,
Alimenta a chama de tua luz com teu próprio alento,
Atraindo a fome onde grassa a abundância;
Tu, teu próprio inimigo, és cruel demais para contigo.


Tu, que hoje és o esplendor do mundo,
Que em galhardia anuncia a primavera,
Em teu botão enterraste a tua alegria,


E, caro bugre, assim te desperdiças rindo.
Tem dó do mundo, ou sê seu glutão –
Devora o que cabe a ele, junto a ti e à tua tumba.


(Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta)

segunda-feira, 22 de junho de 2015

J.S. Bach, Cantata: Was willst du dich betrüben BWV 107

https://youtu.be/3v-2EhrVXJ0

Arturo Benedetti Michelangeli Concert in Lugano,1981


"A linguagem corresponde não às necessidades materiais do homem, mas à paixão e à imaginação: não foi a fome, e sim o amor, o medo ou o assombro que nos fizeram falar. O princípio metafórico é o fundamento da linguagem. (...) Uma das funções centrais da poesia é mostrar-nos o outro lado das coisas, o maravilhoso quotidiano: não a irrealidade, mas a prodigiosa realidade do mundo."

Octavio Paz, em "Os filhos do barro".


Beethoven Sonata № 12 op.26 00:00 Sonata № 11 op.22 20:41
Schubert Sonata a moll D 537 47:27
Brahms 4 ballades op.10 1:12:38


https://youtu.be/Zf3xHZrcjPg

«ODE AO DIA FELIZ»

Desta vez deixa-me
ser feliz,
nada passou a ninguém,
não estou em parte alguma,
acontece somente
que sou feliz
pelos quatro lados
do coração, andando
dormindo ou escrevendo.
O que vou fazer-te, sou
feliz.
Sou mais inumerável
que o pasto
nas pradarias,
sinto a pele como uma árvore rugosa
e a água abaixo,
os pássaros acima,
o mar como um anel
em minha cintura,
feita de pão e pedra a terra
o ar canta como um violão.


Tu ao meu lado na areia,
és areia,
tu cantas e és canto,
o mundo
é hoje minha alma,
canto e areia,
o mundo
é hoje tua boca,
deixa-me
em tua boca e na areia
ser feliz,
ser feliz porque sim, porque respiro
e porque tu respiras,
ser feliz porque toco
teu joelho
e é como se tocasse
a pele azul do céu
e seu frescor.

Hoje deixa-me
a mim só
ser feliz,
com todos ou sem todos,
ser feliz
com o pasto
e a areia,
ser feliz
com o ar e a terra,
ser feliz,
contigo, com tua boca,
ser feliz.

Pablo Neruda, 'Oda al día feliz' em "Odas elementales", 1954.
(Tradução: Raul Cézar de Albuquerque)

Ravel, Concerto in sol per pianoforte e orchestra

"Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias."
(Eugénio de Andrade)


Ravel, Concerto in sol per pianoforte e orchestra
Al piano Arturo Benedetti Michelangeli
London Symphony Orchestra
Dir. Sergiu Celibidache
https://youtu.be/9zIXSqyYyq0

sábado, 20 de junho de 2015

The Avalanches - 'Since I Left You'



https://youtu.be/wpqm-05R2Jk

- Sabem que estamos a seguir um caminho completamente errado?

"O George disse:
- Sabem que estamos a seguir um caminho completamente errado? Não devemos pensar nas coisas que nos podem dar jeito, mas apenas naquelas que não podemos dispensar.
É verdade que, de vez em quando, o George é mesmo um homem sensato. É surpreendente. Chamo a isto, inequivocamente, sabedoria, não apenas no que toca ao assunto em apreço, mas também no que se refere em geral à nossa viagem pelo rio da vida acima. Quantas pessoas, numa viagem destas, não carregam o barco a pontos de o fazer perigar, abarrotando-o de coisas tontas que acham essenciais para o seu prazer e conforto no passeio, mas que não passam de trastes inúteis!
Como atulham a pobre embarcação até à altura do mastro, com belas roupagens e casas enormes; com criados inúteis e um bando de amigos que não lhe ligam peva e aos quais também nada ligam; com divertimentos que não divertem ninguém, com formalidades e modas, com pretensões e ostentação, e com - oh! os trastes mais pesados e mais loucos de todos! - o temor daquilo que pensará o vizinho, com luxos que só estorvam, com prazeres que maçam, com espectáculos ocos que, como a coroa de ferro do criminoso de outros tempos, fazem sangrar e girar a cabeça magoada que a suporta!
São trastes, homem - tudo é trastes! Lança-os borda fora. O barco fica tão pesado que quase se desmaia a puxar pelos remos. Fica tão difícil e perigoso de manejar que nunca se tem um momento livre de ansiedade e de preocupações, nunca se tem um momento de descanso para devanear preguiçosamente - não há tempo para ver as sombras agitadas pelo vento que perpassam levemente os baixios, ou os raios brilhantes do sol que cintilam sobre a ondulação, ou as grandes árvores junto às margens contemplando o seu próprio retrato, ou os bosques, todos verdes e dourados, ou os lírios brancos e amarelos e os oscilantes juncos sombrios, e as ciperáceas ou as orquídeas ou os miosótis azuis.
Deita fora os trastes, homem! Deixa leve o teu barco da vida, carregado apenas com aquilo de que tu precisas - um lar acolhedor e prazeres simples, um ou dois amigos que mereçam tal nome, alguém que ames e alguém que te ame, um gato, um cão e um ou dois cachimbos, comida e roupa em quantidade suficiente e bebida em quantidade mais do que suficiente: porque a sede é uma coisa perigosa.
Verás que o barco é, então, mais fácil de manobrar e não será tão propenso a virar, nem será tão grave se isso acontecer: a mercadoria boa e simples suporta bem a água. Terás tempo para pensar, assim como para trabalhar. Tempo para beber ao sol da vida - tempo para escutar a música eólica que o vento de Deus arranca às cordas do coração dos homens que nos rodeiam - tempo para..."


Jerome K. Jerome, in "Três Homens Num Barco (Para Não Falar do Cão)"

The Cure "A Few Hours After This"

https://youtu.be/Zap805KVf74****The Cure - Standing On A Beach https://youtu.be/cYQ6FObV6v8

João Gilberto "Grandes Nomes" Concerto 1980


João Gilberto "Grandes Nomes" Concerto 1980

https://youtu.be/GCpqVP6vswg

“ESTÁ DE ANANASES!”


 
(...)Assim fiquei só com Fradique – que me convidou a subir aos seus quartos, e esperar Vidigal, bebendo uma “soda e limão”.
Pela escada, o poeta das “Lapidarias” aludiu ao tórrido calor de Agosto. E eu, que nesse instante, defronte do espelho no patamar, revistava, com um olhar furtivo, a linha da minha sobrecasaca e a frescura da minha rosa, deixei estouvadamente escapar esta coisa hedionda:
- Sim, está de escachar!
E ainda o torpe som não morrera já uma aflição me lacerava por esta chulice de esquina de tabacaria, assim atabalhoadamente lançada como um pingo de sebo sobre o supremo artista das “Lapidarias”, o homem que conversava com Hugo à beira-mar!...
Entrei no quarto atordoado, com bagas de suor na face. E debalde rebuscava desesperadamente uma outra frase sobre o calor, bem trabalhada, toda cintilante e nova. Nada! Só me acudiam sordidezes paralelas, em calão teimoso: - “é de rachar”!, “está de ananases”!, “derrete os untos”!
Atravessei, ali, uma dessas angústias atrozes, grotescas, que, aos vinte anos, quando se começa a vida e a literatura, vincam a alma e jamais se esquecem.”


 Eça de Queiroz, em “Correspondência de Fradique Mendes”

Jerry Bock - Fiddler on the Roof


Jerry Bock - Fiddler on the Roof
Violin: Katica Illenyi (Illényi Katica)
Dohnányi Orchestra Budafok
Conductor: Istvan Sillo (Silló István)

https://youtu.be/YsHxZjm-zg8

«obrigado sou feliz»

sou feliz sou feliz não se preocupem
porque hão-de estar sempre a perguntar
como vou se estou bem se tudo corre
não há dia que eu não vá para oeste
não há dia que não corra para a foz
como todos os rios e não veja
o sol a pôr-se  a noite a impor-se
e não sinta as estrelas a ferverem-me na cabeça


já há gente em demasia a preocupar-se comigo
e esse é o meu único motivo de preocupação
saber  que tudo existe para o meu bem
desde o senhor presidente da república
e o primeiro ministro e o segundo e os demais
todos absorvidos na minha inteira satisfação
no meu sucesso no meu bem-estar
até aos dezoito ou quarenta e sete já não sei
partidos políticos apostados em cuidarem de mim
a fazerem-me chegar promessas de conforto
e saúde e alegria e a garantirem-me
que não serei esquecido um único segundo
pelo menos até ao dia das eleições


e depois o presidente da câmara e o da junta
que me asseguram pleno apoio e solidariedade
e as seguradoras e empresas de alarmes
a afiançarem-me proteção e segurança
e os bancos sempre focados no meu sucesso financeiro
e as múltiplas organizações internacionais
sempre de olhos fitos na minha realização
e a onu e os americanos e imensos exércitos
a combaterem pela minha defesa e sobrevivência
lá longe nos confins da democracia imposta


e o senhor padre e o senhor bispo e o senhor papa
e a igreja do sétimo dia e a do oitavo
que rezam por mim e me garantem a salvação
e as entidades divinas que me enviam pombas
ou andorinhas para voarem à minha frente
nos caminhos das melhores opções
e a ubiquidade do anjo-da-guarda
e dos arrumadores de carros
e da coca-cola e da seven-up e da danone
que me formatam as linhas do sorriso
e o euromilhões e o comprimido azul
e o ácido acetilsalicílico e muitos outros fármacos
que velam pelos meus sonhos e os meus delírios
bem sei que a gratidão tem memória curta e eu não quero
ser ingrato muito obrigado por tudo o que fizeram
mas também não é preciso exagerar talvez
eu consiga sorrir sem me fazerem mimos ou cócegas
e sem me enviarem continuamente anedotas para ler


a sério não se preocupem não percam tempo comigo
não venham a toda a hora pé ante pé ao meu quarto
ver se é sossegado o meu sono porque é certo
que estou a sonhar com o paraíso
e no deleite dos brandos braços de eva


estou condenado a ser feliz a ser feliz a ser feliz
e até o portal das finanças não deixa de pensar em mim


Anthero Monteiro, 'obrigado sou feliz', in "Antologia da Cave - 25 anos de poesia no Pinguim Café", Edições Apuro

«Oh, os amigos, os abandonados,...»


32.

Estão as praças,
Como ágoras de outrora, estonteadas
Pela concentração dos organismos,
Pelo uso da palavra, a fervilhante
Palavra própria da democracia,
Essa que dá a volta e ilumina
O que, por um instante, a empunhou.
Oh, os amigos, os abandonados,
Esses, os destinados ao extermínio,
Esses os belos despojados, nus,
Os que, mesmo nascendo no Inverno,
Pouco sabem do frio, gente que dorme
Na sombra do meio-dia, ouvindo o canto
Das cigarras, o canto sobre o qual
Hesíodo escreveu. Gente do Sul,
Gente que um dia se desnorteou.


33.

De que armas disporemos, senão destas
Que estão dentro do corpo: o pensamento,
A ideia de polis, resgatada
De um grande abuso, uma noção de casa
E de hospitalidade e de barulho
Atrás do qual vem o poema, atrás
Do qual virá a colecção dos feitos
E defeitos humanos, um início.


Hélia Correia, em "A Terceira Miséria"

Yo la Tengo - Fakebook (1990)


Yo la Tengo - Fakebook (1990)
Can't Forget - (Ira Kaplan)
Griselda -- 2:19 (Antonia)
Here Comes My Baby -- 4:21 (Cat Stevens)
Barnaby, Hardly Working -- 6:54 (Georgia Hubley, Kaplan)
Yellow Sarong -- 11:24 (The Scene is Now)
You Tore Me Down -- 13:07 (The Flamin' Groovies)
Emulsified -- 16:03 (Rex Garvin & The Mighty Cravers)
Speeding Motorcycle -- 18:55 (Daniel Johnston)
Tried So Hard -- 22:19 (Gene Clark)
The Summer -- 24:40 (Hubley, Kaplan)
Oklahoma, U.S.A. -- 27:19 (Ray Davies)
What Comes Next -- 29:43 (Ira Kaplan)
The One to Cry -- 33:03 (The Escorts)
Andalucia -- 35:04 (John Cale)
Did I Tell You -- 38:44 (Kaplan)
What Can I Say -- 42:10 (Joey Spampinato)

https://youtu.be/EjG3F9SV34Y

Yo La Tengo - "May I Sing With Me"


Yo La Tengo - "May I Sing With Me"

A abelha que, voando, freme sobre


Ricardo Reis
 
 
A abelha que, voando, freme sobre
A colorida flor, e pousa, quase
Sem diferença dela
À vista que não olha,
Não mudou desde Cecrops. Só quem vive
Uma vida com ser que se conhece
Envelhece, distinto
Da espécie de que vive.
Ela é a mesma que outra que não ela.
Só nós — ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte!—
Mortalmente compramos
Ter mais vida que a vida.
 
2-9-1923
Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa.

Einar Englund: Symphony No.7 (1988)


Einar Englund (1916-1999): Symphony No.7 (1988)
I. Allegretto
II. Andante [08:39]
III. Moderato e quasi una danza tristezza [15:41]
IV. Con moto [23:22]

Tampere Philharmonic Orchestra diretta da Ari Rasilainen.
Cover image: painting by Akseli Gallen Kallela.
https://youtu.be/VuF3gKGgJFo

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Duke Garwood Hawaiian Death Song

https://youtu.be/Rvc7KutwS5E

Duke Garwood Heavy Love


Duke Garwood Heavy Love
https://youtu.be/Xjo5Zvb5OX0

Andrés Segovia- The Intimate Guitar


BENDA: Sonatina in D; Sonatina in D Minor
SCARLATTI: Two-Sonatas: Larghetto; Minuet
SOR: Andante in C Minor & Minuet in C; Minuet in A; Minuet in C
WEISS: Bourree
BACH: Cello Suite No. 1: Prelude; Sarabande; Minuet I, Minuet II
ASENCIO: Dipso
PONCE: Preiude in E

https://youtu.be/zf00PYvWWvI

«BACH SEGÓVIA GUITARRA»


(Gavottes de J.S.Bach por Andrés Segóvia)

«BACH SEGÓVIA GUITARRA»

A música do ser
Povoa este deserto
Com sua guitarra
Ou com harpas de areia

Palavras silabadas
Vêm uma a uma
Na voz da guitarra

A música do ser
Interior ao silêncio
Cria seu próprio tempo
Que me dá morada

Palavras silabadas
Unidas uma a uma
Às paredes da casa

Por companheira tenho
A voz da guitarra

E no silêncio ouvinte
O canto me reúne
De muito longe venho
Pelo canto chamada

E agora de mim
Não me separa nada
Quando oiço cantar
A música do ser
Nostalgia ordenada
Num silêncio de areia
Que não foi pisada


Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia", 1967

  https://youtu.be/eBQfHJA2Lng

«SUA BELEZA»

Sua Beleza

 Sua beleza é total
Tem a nítida esquadria de um Mantegna
Porém como um Picasso de repente
Desloca o visual


Seu torso lembra o respirar da vela
Seu corpo é solar e frontal
Sua beleza à força de ser bela
Promete mais do que prazer
Promete um mundo mais inteiro e mais real
Como pátria do ser


Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

Henryk Górecki - Symphony No. 3 of "Sorrowful Songs" | Dawn Upshaw. London Sinfonietta, David Zinman


Henryk Mikołaj Górecki (1933-2010). Symphony Nº 3, Op. 36, "The Symphony of Sorrowful Songs", 1976.
Performer: Dawn Upshaw. London Sinfonietta Orchestra, Conducted by David Zinman. Nonesuch Label, 1992
Symphony Nº.3, "The Symphony of Sorrowful Songs":
00:00 I. Lento - Sostenuto tranquillo ma cantabile
26:44 II. Lento e Largo - Tranquillissimo - Cantabillissimo - Dolcissimo legatissimo
36:30 III. Lento - Cantabile semplice

«One of the most devastating pieces of music composed. Henryk Gorecki's Symphony No. 3 is a powerful, prayer-like setting of instrumental and vocal music. While considered a modern composer, the work is firmly rooted in the tonal world, often creating a mantra/meditative feel. The 1976 composition is as emotional today, as it was in its own time.»
(...)

https://youtu.be/bPhrG82nV2c

Johannes Hieronymus Kapsberger Pieces for Lute, Paul O'Dette


Johannes Hieronymus Kapsberger (1580-1651)
1. Toccata arpeggiata Chitarrone 0:00
2. Gagliarda 11a Chitarrone 2:55
3. Toccata 5a Chitarrone 4:18
4. Aria di Fiorenza Chitarrone 6:30
5. Toccata 1 Lute 17:48
6. Gagliarda 1a Lute 22:01
7. Corrente 1a Lute 23:56
8. Toccata VI Lute 26:16
9. Gagliarda 10a Lute 29:04
10. Corrente 7a Lute 30:53
11. Corrente 2a [Modena MS] Chitarrone 32:43
12. Ciachone Chitarrone 34:27
13. Toccata V Lute 36:12
14. Gagliarda 12a Lute 39:59
15. Corrente 12a Lute 41:52
16. Toccata III Lute 43:25
17. Gagliarda 4a Lute 45:56
18. Corrente 11a Lute 47:20
19. Toccata 1a Chitarrone 48:27
20. Corrente 2a Chitarrone 54:55
21. Toccata 2a Chitarrone 56:40
22. Bergamasca Chitarrone 1:00:06
23. Kapsberger Chitarrone 1:02:46
24. Colascione Chitarrone 1:05:45
25. Canario Chitarrone 1:07:39

https://youtu.be/lTa8WoOVRbw