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terça-feira, 7 de julho de 2015

«Carta aos amigos mortos»


Carta aos amigos mortos

"Eis que morrestes – agora já não bate
O vosso coração cujo bater
Dava ritmo e esperança ao meu viver
Agora estais perdidos para mim
– O olhar não atravessa esta distância –
Nem irei procurar-vos pois não sou
Orpheu tendo escolhido para mim
Estar presente aqui onde estou viva
Eu vos desejo a paz nesse caminho
Fora do mundo que respiro e vejo
Porém aqui eu escolhi viver
Nada me resta senão olhar de frente
Neste país de dor e incerteza
Aqui eu escolhi permanecer
Onde a visão é dura e mais difícil


Aqui me resta apenas fazer frente
Ao rosto sujo de ódio e de injustiça
A lucidez me serve para ver
A cidade a cair muro por muro
E as faces a morrerem uma a uma
E a morte que me corta ela me ensina
Que o sinal do homem não é uma coluna"


Sophia de Mello Breyner Andresen,
Livro Sexto


[1962]. Obra poética. Edição definitiva de Maria

Andresen de Sousa Tavares e Luis Manuel Gaspar. Lisboa: Caminho, 2003.

https://youtu.be/zjK7HfFZeh8

sexta-feira, 19 de junho de 2015

«BACH SEGÓVIA GUITARRA»


(Gavottes de J.S.Bach por Andrés Segóvia)

«BACH SEGÓVIA GUITARRA»

A música do ser
Povoa este deserto
Com sua guitarra
Ou com harpas de areia

Palavras silabadas
Vêm uma a uma
Na voz da guitarra

A música do ser
Interior ao silêncio
Cria seu próprio tempo
Que me dá morada

Palavras silabadas
Unidas uma a uma
Às paredes da casa

Por companheira tenho
A voz da guitarra

E no silêncio ouvinte
O canto me reúne
De muito longe venho
Pelo canto chamada

E agora de mim
Não me separa nada
Quando oiço cantar
A música do ser
Nostalgia ordenada
Num silêncio de areia
Que não foi pisada


Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia", 1967

  https://youtu.be/eBQfHJA2Lng

«SUA BELEZA»

Sua Beleza

 Sua beleza é total
Tem a nítida esquadria de um Mantegna
Porém como um Picasso de repente
Desloca o visual


Seu torso lembra o respirar da vela
Seu corpo é solar e frontal
Sua beleza à força de ser bela
Promete mais do que prazer
Promete um mundo mais inteiro e mais real
Como pátria do ser


Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

sábado, 30 de maio de 2015

"Sophia de Mello Breyner Andresen -- O Nome das Coisas"



https://youtu.be/s0MhPfK1OjY

Grandes Livros - Episódio 12 - Navegações (Sophia de Mello Breyner Andresen)

Navegámos para Oriente ―
A longa costa
Era de um verde espesso e sonolento
Um verde imóvel sob o nenhum vento...
Até à branca praia cor de rosas
Tocada pelas águas transparentes

Então surgiram as ilhas luminosas
De um azul tão puro e tão violento
Que excedia o fulgor do firmamento
Navegado por garças milagrosas
E extinguiram-se em nós memória e tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen. 'As Ilhas' (1977)

Grandes Livros - Episódio 12 - "Navegações" (Sophia de Mello Breyner Andresen)
 


https://youtu.be/xVIO7qytTOA

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Sophia de Mello Breyner Andresen - "A menina do mar" Música de Fernando Lopes-Graça.


Sophia de Mello Breyner Andresen - "A menina do mar"
(disco de 1961)
Música de Fernando Lopes-Graça. Vozes de Eunice Muñoz, Francisca Maria, António David, e Luís Horta.
Direcção de Artur Ramos.
"A Menina do Mar" é um conto escrito em prosa poética que contém muitos dos elementos do universo criativo da sua autora; o mar, a mitologia, a relação do homem com a natureza.

[...Aqui se recria a história de um rapaz, com alma de aventureiro e existência independente, que vive numa casa na praia de "areia branca e fina", e do seu encontro com uma menina do tamanho da palma da mão, feita de algas e que mora numa gruta no fundo do mar, tendo por companhia "o polvo, o caranguejo e o peixe"...]

  http://youtu.be/qJyMLokcUXo