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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

If You Forget Me - Pablo Neruda

https://youtu.be/TAOFi2flycs

Se Me Esqueceres

Se Me Esqueceres

Quero que saibas 
uma coisa. 

Sabes como é: 
se olho 
a lua de cristal, o ramo vermelho 
do lento outono à minha janela, 
se toco 
junto do lume 
a impalpável cinza 
ou o enrugado corpo da lenha, 
tudo me leva para ti, 
como se tudo o que existe, 
aromas, luz, metais, 
fosse pequenos barcos que navegam 
até às tuas ilhas que me esperam. 

Mas agora, 
se pouco a pouco me deixas de amar 
deixarei de te amar pouco a pouco. 

Se de súbito 
me esqueceres 
não me procures, 
porque já te terei esquecido. 

Se julgas que é vasto e louco 
o vento de bandeiras 
que passa pela minha vida 
e te resolves 
a deixar-me na margem 
do coração em que tenho raízes, 
pensa 
que nesse dia, 
a essa hora 
levantarei os braços 
e as minhas raízes sairão 
em busca de outra terra. 

Porém 
se todos os dias, 
a toda a hora, 
te sentes destinada a mim 
com doçura implacável, 
se todos os dias uma flor 
uma flor te sobe aos lábios à minha procura, 
ai meu amor, ai minha amada, 
em mim todo esse fogo se repete, 
em mim nada se apaga nem se esquece, 
o meu amor alimenta-se do teu amor, 
e enquanto viveres estará nos teus braços 
sem sair dos meus. 

Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda" 

domingo, 19 de julho de 2015

Quero que saibas uma coisa.

Quero que saibas uma coisa.

Tu sabes como é:
se olho a lua de cristal, os galhos vermelhos do outono em minha janela,
se toco junto ao fogo as impalpáveis cinzas
no corpo retorcido da lenha,
tudo me leva a ti,
como se tudo o que existe:
aromas, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam em direção às ilhas tuas que esperam por mim.

Agora, bem,
se pouco a pouco tu deixares de me querer
pararei de te querer
pouco a pouco.

Se de repente me esqueceres
não me procure,
pois já terei te esquecido.

Se consideras violento e louco o vento das bandeiras que passa por minha vida
e decidires me deixar às margens do coração no qual tenho raízes,
lembra-te
que nesta dia,
a esta hora
levantarei os braços e minhas raízes partirão em busca de outra terra.

Mas
se em cada dia,
cada hora,
sentires que a mim estás destinado com implacável doçura,
se em cada dia levantares uma flor em teus lábios para me buscares,
oh meu amor, oh minha vida,
em mim todo esse fogo se reacenderá,
em mim nada se apaga ou se esquece,
meu amor se nutre do seu, amado,
e enquanto viveres
estará em teus braços
sem deixar os meus.

Pablo Neruda

domingo, 5 de julho de 2015

JAMAIS O VI




 Jamais o vi, entretanto caminhávamos
Passo a passo.

Jamais ouvi sua voz e minha voz o seguia
Enchendo o mundo.
E houve um ensolarado dia quando a alegria
Extravasou meu peito.

Senti a angústia de carregar n’alma
O abandono do crepúsculo.

Eu o senti ao meu lado, os braços ardentes,
Limpos, sangrantes, cândidos.

E minha dor sob o negrume da noite
Adentrou seu coração.

Assim seguimos juntos.


(Pablo Neruda - Livro Crepusculário. Santiago, 1923)

segunda-feira, 22 de junho de 2015

«ODE AO DIA FELIZ»

Desta vez deixa-me
ser feliz,
nada passou a ninguém,
não estou em parte alguma,
acontece somente
que sou feliz
pelos quatro lados
do coração, andando
dormindo ou escrevendo.
O que vou fazer-te, sou
feliz.
Sou mais inumerável
que o pasto
nas pradarias,
sinto a pele como uma árvore rugosa
e a água abaixo,
os pássaros acima,
o mar como um anel
em minha cintura,
feita de pão e pedra a terra
o ar canta como um violão.


Tu ao meu lado na areia,
és areia,
tu cantas e és canto,
o mundo
é hoje minha alma,
canto e areia,
o mundo
é hoje tua boca,
deixa-me
em tua boca e na areia
ser feliz,
ser feliz porque sim, porque respiro
e porque tu respiras,
ser feliz porque toco
teu joelho
e é como se tocasse
a pele azul do céu
e seu frescor.

Hoje deixa-me
a mim só
ser feliz,
com todos ou sem todos,
ser feliz
com o pasto
e a areia,
ser feliz
com o ar e a terra,
ser feliz,
contigo, com tua boca,
ser feliz.

Pablo Neruda, 'Oda al día feliz' em "Odas elementales", 1954.
(Tradução: Raul Cézar de Albuquerque)

sexta-feira, 10 de abril de 2015

PABLO NERUDA - Poema XLIV

Poema XLIV

Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.


Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.


Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desafortunado.


Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.


(Pablo Neruda,  "Cem Sonetos de Amor "
(Tradução de Carlos Nejar. Rio Grande do Sul: L & PM)

domingo, 1 de março de 2015

O Teu Riso

O Teu Riso

 Tira-me o pão, se quiseres,
 tira-me o ar, mas
 não me tires o teu riso.


 Não me tires a rosa,
 a flor de espiga que desfias,
 a água que de súbito
 jorra na tua alegria,
 a repentina onda
 de prata que em ti nasce.


 A minha luta é dura e regresso
 por vezes com os olhos
 cansados de terem visto
 a terra que não muda,
 mas quando o teu riso entra
 sobe ao céu à minha procura
 e abre-me todas
 as portas da vida.


 Meu amor, na hora
 mais obscura desfia
 o teu riso, e se de súbito
 vires que o meu sangue mancha
 as pedras da rua,
 ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
 como uma espada fresca.


 Perto do mar no outono,
 o teu riso deve erguer
 a sua cascata de espuma,
 e na primavera, amor,
 quero o teu riso como
 a flor que eu esperava,
 a flor azul, a rosa
 da minha pátria sonora.


 Ri-te da noite,
 do dia, da lua,
 ri-te das ruas
 curvas da ilha,
 ri-te deste rapaz
 desajeitado que te ama,
 mas quando abro
 os olhos e os fecho,
 quando os meus passos se forem,
 quando os meus passos voltarem,
 nega-me o pão, o ar,
 a luz, a primavera,
 mas o teu riso nunca
 porque sem ele morreria.


 Pablo Neruda, em "Poemas de Amor de Pablo Neruda"