segunda-feira, 31 de agosto de 2015
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
Mignon
Mignon
Conheces o país onde os limões florescem
E laranjas de ouro acendem a folhagem?
Sopra do céu azul uma doce viragem
Junto ao loureiro altivo os mirtos adormecem.
Conheces o país?
E laranjas de ouro acendem a folhagem?
Sopra do céu azul uma doce viragem
Junto ao loureiro altivo os mirtos adormecem.
Conheces o país?
É onde, para onde
Eu quisera ir contigo, amado! Longe, longe!
Eu quisera ir contigo, amado! Longe, longe!
Conheces o solar? O tecto que descansa
Nas colunas, a sala, os quartos luminosos,
E as estátuas a olhar-me, os mármores zelosos:
Que fizeram a ti, minha pobre criança?
Conheces o solar?
Nas colunas, a sala, os quartos luminosos,
E as estátuas a olhar-me, os mármores zelosos:
Que fizeram a ti, minha pobre criança?
Conheces o solar?
É onde, para onde
Eu quisera ir contigo, amigo! Longe, longe!
Eu quisera ir contigo, amigo! Longe, longe!
Conheces a montanha e a vereda de bruma,
A alimária que busca a enevoada senda?
Nas grutas ainda vive o dragão da legenda,
A rocha cai em ponta e à roda a onda espuma,
Conheces a montanha?
A alimária que busca a enevoada senda?
Nas grutas ainda vive o dragão da legenda,
A rocha cai em ponta e à roda a onda espuma,
Conheces a montanha?
É onde, para onde
Nosso caminho, pai, nos chama. Vamos. Longe.
Nosso caminho, pai, nos chama. Vamos. Longe.
- Johann Wolfgang von Goethe. "Da Actualidade de Goethe".
[tradução Haroldo de Campos].
In:_____. O arco-íris branco. Rio de. Janeiro: Imago 1997.
[tradução Haroldo de Campos].
In:_____. O arco-íris branco. Rio de. Janeiro: Imago 1997.
quinta-feira, 27 de agosto de 2015
Signora Bovary - Francesco Guccini
http://clotildedias-lastdaysofmylife.blogspot.pt/
https://youtu.be/l8TgzKlxeMA
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
Jason Moran Trio - Jazz Baltica 2004
Jason Moran Trio - Jazz Baltica
01. You've got to be modernistic
02. Intermezzo Op. 118, No.2
03. Jump up
04. Kinda dukish
05. Body and soul
06. Ringing my phone
07. Out front
08. Planet rock
09. Fire waltz
10. Infospace
JASON MORAN - piano
TARUS MATEEN - bass
NASHEET WAITS - drums
Jason Moran Trio (Tarus Mateen, Nasheet Waits):
Live at Große Konzertscheue, Jazzbaltica, Salzau, Germany, 2004
Carlos Mendes - "Nocturno" do disco LP "Canções de Ex-Cravo e Malviver" (1978)
Carlos Mendes - "Nocturno" do disco LP "Canções de Ex-Cravo e Malviver" (1978)
Poesia de Joaquim Pessoa
Musica de Carlos Mendes
Com músicos convidados (entre outros), Pedro Caldeira Cabral, Paulo Godinho e Júlio Pereira.
Arranjos e a direcção musical de Pedro Osório.
https://youtu.be/drm7Ik-EyOY
Eh! Meu Irmão (ou mais uma canção de medo) - Sérgio Godinho
Canção retirada do álbum "Pré-Histórias" de 1972 por Sérgio Godinho.
https://youtu.be/bxkq4PnBqNc
PASSAGEM DA NOITE
Passagem da Noite
É noite. Sinto que é noite
não porque a sombra descesse
(bem me importa a face negra)
mas porque dentro de mim,
no fundo de mim, o grito
se calou, fez-se desânimo.
Sinto que nós somos noite,
que palpitamos no escuro
e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento,
noite nas águas, na pedra.
E que adianta uma lâmpada?
E que adianta uma voz?
É noite no meu amigo.
É noite no submarino.
É noite na roça grande.
É noite, não é morte, é noite
de sono espesso e sem praia.
Não é dor, nem paz, é noite,
é perfeitamente a noite.
Mas salve, olhar de alegria!
E salve, dia que surge!
Os corpos saltam do sono,
o mundo se recompõe.
Que gozo na bicicleta!
Existir: seja como for.
A fraterna entrega do pão.
Amar: mesmo nas canções.
De novo andar: as distâncias,
as cores, posse das ruas.
Tudo que à noite perdemos
se nos confia outra vez.
Obrigado, coisas fiéis!
Saber que ainda há florestas,
sinos, palavras; que a terra
prossegue seu giro, e o tempo
não murchou; não nos diluímos.
Chupar o gosto do dia!
Clara manhã, obrigado,
o essencial é viver!
Carlos Drummond de Andrade
terça-feira, 25 de agosto de 2015
sábado, 22 de agosto de 2015
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
J. M. Molter: Sonata Grossa for 3 trumpets, 2 oboes, timpani, strings & b.c. / N. Matt
JOHANN MELCHIOR MOLTER [1695-1765]
SONATA GROSSA for three trumpets, two oboes, timpani, strings and basso continuo
I. Adagio, allegro - 0:06
II. Largo - 5:09
III. Tempo di Gavotta - 6:00
IV. Andante - 8:33
V. Tempo di Menuet - 11:25
Otto Sauter (piccolo trumpet)
Franz Wagnermeyer (trumpet)
Cappella Istropolitana / Nicol Matt (conductor)
https://youtu.be/bjMwo1gb410
Richard Galliano Septet -- Piazzolla Forever -- En Concert.
Performer: Richard Galliano,
Jean-Marc Phillips-Varjabedian,
Sebastien Surel,
Jean-Marc Apap,
Henri Demarquette,
Stephane Logerot,
Herve Sellin.
1. Verano portero
2. Primavera portena
3. Sur -- Regreso al amor
4. Concerto pour bandoneon et orchestre -- 1er mouvement allegro
5. Concerto pour bandoneon et orchestre -- 2eme mouvement moderato
6. Concerto pour bandoneon et orchestre -- 3eme mouvement presto
7. Milonga del angel
8. Michelangelo 70
9. Milonga sin palabras
10. Libertango
11. La valse a Margaux
12. Extrait du prelude pour piano : Leija's game
13. Laura and Astor
14. Escualo
15. Milonga du concerto pour guitare bandoneon et orchestre
16. Opale concerto (New York tango)
17. Tango pour Claude
18. Invierno porteno
19. Otono porteno
20. Oblivion
21. Michelangelo 70
https://youtu.be/mAhebGhFCzc
terça-feira, 18 de agosto de 2015
Os Instantes Superiores da Alma
Os instantes Superiores da Alma
Acontecem-lhe - na solidão -
Quando o amigo - e a ocasião Terrena
Se retiram para muito longe -
Ou quando - Ela Própria - subiu
A um plano tão alto
Para Reconhecer menos
Do que a sua Omnipotência -
Essa Abolição Mortal
É rara - mas tão bela
Como Aparição - sujeita
A um Ar Absoluto -
Revelação da Eternidade
Aos seus favoritos - bem poucos -
A Gigantesca substância
Da Imortalidade
Emily Dickinson, in "Poemas e Cartas"
Tradução de Nuno Júdice
Acontecem-lhe - na solidão -
Quando o amigo - e a ocasião Terrena
Se retiram para muito longe -
Ou quando - Ela Própria - subiu
A um plano tão alto
Para Reconhecer menos
Do que a sua Omnipotência -
Essa Abolição Mortal
É rara - mas tão bela
Como Aparição - sujeita
A um Ar Absoluto -
Revelação da Eternidade
Aos seus favoritos - bem poucos -
A Gigantesca substância
Da Imortalidade
Emily Dickinson, in "Poemas e Cartas"
Tradução de Nuno Júdice
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
"So Long Frank Lloyd Wright" by Simon and Garfunkel
So long, Frank Lloyd Wright.
I can't believe your song is gone so soon.
I barely learned the tune
So soon
So soon.
I'll remember Frank Lloyd Wright.
All of the nights we'd harmonize till dawn.
I never laughed so long
So long
So long.
CHORUS
Architects may come and
Architects may go and
Never change your point of view.
When I run dry
I stop awhile and think of you
So long, Frank Lloyd Wright
All of the nights we'd harmonize till dawn.
I never laughed so long
So long
So long.
https://youtu.be/bUPG_PzNYXg
domingo, 16 de agosto de 2015
Hermann Hesse
“Quando alguém encontra algo de que verdadeiramente necessita, não é o acaso que tal proporciona, mas a própria pessoa; seu próprio desejo e a sua própria necessidade o conduzem a isso.”
Hermann Hesse, in "Demian"
Hermann Hesse, in "Demian"
"The Man With The Hoe" Edwin Markham poem inspired by "L'homme à la houe" Jean-François Millet
"The Man With The Hoe" Edwin Markham poem inspired by "L'homme à la houe" Jean-François Millet
sábado, 15 de agosto de 2015
sexta-feira, 14 de agosto de 2015
Stravinsky Ballet Firebird (O Pássaro de Fogo)
Stravinsky Ballet-Firebird(Bolshoi,1997)
https://youtu.be/zVNhChU97C8
Nitin Sawhney - Living on a Wire
Nitin Sawhney - Living on a Wire
Album: Last Days of Meaning
Vocals by Lianne La Havas
https://youtu.be/vPhtPHcBYWk
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
É Impossível que o Tempo Actual não Seja o Amanhecer doutra Era
«É impossível que o tempo actual não seja o amanhecer doutra era, onde os homens signifiquem apenas um instinto às ordens da primeira solicitação. Tudo quanto era coerência, dignidade, hombridade, respeito humano, foi-se. Os dois ou três casos pessoais que conheço do século passado, levam-me a concluir que era uma gente naturalmente cheia de limitações, mas digna, direita, capaz de repetir no fim da vida a palavra com que se comprometera no início dela. Além disso heróica nas suas dores, sofrendo-as ao mesmo tempo com a tristeza do animal e a grandeza da pessoa. Agora é esta ferocidade que se vê, esta coragem que não dá para deixar abrir um panarício ou parir um filho sem anestesia, esta tartufice, que a gente chega a perguntar que diferença haverá entre uma humanidade que é daqui, dali, de acolá, conforme a brisa, e uma colónia de bichos que sentem a humidade ou o cheiro do alimento de certo lado, e não têm mais nenhuma hesitação nem mais nenhum entrave.»
Miguel Torga, in "Diário (1942)"
Miguel Torga, in "Diário (1942)"
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
Se Me Esqueceres
Se Me Esqueceres
Quero que saibas
uma coisa.
Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.
Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.
Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.
Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.
Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.
Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"
uma coisa.
Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.
Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.
Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.
Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.
Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.
Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"
terça-feira, 11 de agosto de 2015
Visto que talvez nem tudo seja falso, que nada, ó meu amor,
Bernardo Soares
Visto que talvez nem tudo seja falso, que nada, ó meu amor,
Visto que talvez nem tudo seja falso, que nada, ó meu amor, nos cure do prazer quase-espasmo de mentir.
Requinte último! Perversão máxima! A mentira absurda tem todo o encanto do perverso com o último e maior encanto de ser inocente. A perversão de propósito inocente — quem excederá, ó (...) o requinte máximo disto? A perversão que nem aspira a dar-nos gozo, que nem tem a fúria de nos causar dor, que cai para o chão entre o prazer e a dor, inútil e absurda como um brinquedo mal feito com que um adulto quisesse divertir-se!
E quando a mentira começar a dar-nos prazer, falemos a verdade para lhe mentirmos. E quando nos causar angústia, paremos, para que o sofrimento nos não signifique nem perversamente prazer...
Não conheces, ó Deliciosa, o prazer de comprar coisas que não são precisas? Sabes o sabor aos caminhos que, se os tomássemos esquecidos, era por erro que os tomaríamos? Que acto humano tem uma cor tão bela como os actos espúrios — (...) que mentem à sua própria natureza e desmentem o que lhes é a intenção?
A sublimidade de desperdiçar uma vida que podia ser útil, de nunca executar uma obra que por força seria bela, de abandonar a meio caminho a estrada certa da vitória!
Ah, meu amor, a glória das obras que se perderam e nunca se acharão, dos tratados que são títulos apenas hoje, das bibliotecas que arderam, das estátuas que foram partidas.
Que santificados do Absurdo os artistas que queimaram uma obra muito bela, daqueles que, podendo fazer uma obra bela, de propósito a fizeram imperfeita, daqueles poetas máximos do Silêncio que, reconhecendo que poderiam fazer obra de todo perfeita, preferiram ousá-la de nunca a fazer. (Se fora imperfeita, vá.)
Quão mais bela a Gioconda desde que a não pudéssemos ver! E se quem a roubasse a queimasse, quão artista seria, que maior artista que aquele que a pintou!
Por que é bela a arte? Porque é inútil. Por que é feia a vida? Porque é toda fins e propósitos e intenções. Todos os seus caminhos são para ir de um ponto para o outro. Quem nos dera o caminho feito de um lugar donde ninguém parte para um lugar para onde ninguém vai! Quem dera a sua vida a construir uma estrada começada no meio de um campo e indo ter ao meio de um outro; que, prolongada, seria útil, mas que ficava, sublimemente, só o meio de uma estrada.
A beleza das ruínas? O não servirem já para nada.
A doçura do passado? O recordá-lo, porque recordá-lo é torná-lo presente, e ele nem o é, nem o pode ser — o absurdo, meu amor, o absurdo.
E eu que digo isto — por que escrevo eu este livro? Porque o reconheço imperfeito. Calado seria a perfeição; escrito, imperfeiçoa-se; por isso o escrevo.
E, sobretudo, porque defendo a inutilidade, o absurdo (...), — eu escrevo este livro para mentir a mim próprio, para trair a minha própria teoria.
E a suprema glória disto tudo, meu amor, é pensar que talvez isto não seja verdade, nem eu o creia verdadeiro.
s.d.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.II. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.
- 499.
"Fase decadentista", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol I. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
Lost In Translation Soundtrack - 01. Intro / Tokyo
Lost In Translation Soundtrack - 01. Intro / Tokyo
https://youtu.be/o8W268bIppk?list=PL4F6FFBE7BAB44D25LEE MARVIN & CLINT EASTWOOD - WAND'RIN STAR - I TALK TO THE TREES
LEE MARVIN & CLINT EASTWOOD - WAND'RIN STAR - I TALK TO THE TREES https://youtu.be/chh46drKytI
domingo, 9 de agosto de 2015
Scott Matthew - Smile
Smile though your heart is aching
Smile even though it's breaking.
When there are clouds in the sky
you'll get by.
If you smile through your pain and sorrow
Smile and maybe tomorrow
You'll see the sun come shining through
For you.
Light up your face with gladness,
Hide every trace of sadness.
Although a tear may be ever so near
That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying.
You'll find that life is still worthwhile-
If you just smile.
Spandau Ballet: Gold
https://youtu.be/6-XU1vVQnHo***********https://www.youtube.com/watch?v=GJuGpkleMzI
sábado, 8 de agosto de 2015
Tame Impala ~ Currents
1.- Let It Happen 0:00
2.- Nangs 7:46
3.- The Moment 9:34
4.- Yes I'm Changing 13:50
5.- Eventually 18:21
6.- Gossip 23:40
7.- The Less I Know The Better 24:35
8.- Past Life 28:14
9.- Disciples 32:02
10.- 'Cause I'm A Man 33:51
11.- Reality In Motion 37:53
12.- Love/Paranoia 42:06
13.- New Person, Same Old Mostakes 45:12
https://youtu.be/70hGUO1wyO4
Nate Ruess - Grand Romantic
Nate Ruess - Grand Romantic (Full Album)
01 - Grand Romantic (Intro)
02 - AhHA
03 - Nothing Without Love
04 - Take It Back
05 - You Light My Fire
06 - What This World Is Coming To (feat. Beck)
07 - Great Big Storm
08 - Moment
09 - It Only Gets Much Worse
10 - Grand Romantic
11 - Harsh Light
12 - Brightside
https://youtu.be/qh0um-6BrjY
Boxing - Ben Folds Five
Boxing - Ben Folds Five
"Boxing"
Howard, the strangest thing
Has happened lately
When I take a good swing
And all my dreams
They pivot and slip
I drop my fists and they're back
Laughing Howard
My intention's become not to lose what I've won
Ambition has given way to desperation and I
Lost the fight from my eyes
[chorus:]
Boxing's been good to me, Howard
Now I'm old, you're growing old
The whole time we knew
In a couple of years I'd be through
Has boxing been good to you?
Howard, I confess I'm scared and lonely and tired
They seem to think I'm made of clay
Another day, not cut out for this
I just want to say, I say
[chorus]
Well sometimes I punch myself as hard as I can
Yelling nobody cares hoping someone will tell me how
Wrong I am
[chorus]
Has boxing been good
Has boxing been good to you?
https://youtu.be/c5VytK9DwG0
"Boxing"
Howard, the strangest thing
Has happened lately
When I take a good swing
And all my dreams
They pivot and slip
I drop my fists and they're back
Laughing Howard
My intention's become not to lose what I've won
Ambition has given way to desperation and I
Lost the fight from my eyes
[chorus:]
Boxing's been good to me, Howard
Now I'm old, you're growing old
The whole time we knew
In a couple of years I'd be through
Has boxing been good to you?
Howard, I confess I'm scared and lonely and tired
They seem to think I'm made of clay
Another day, not cut out for this
I just want to say, I say
[chorus]
Well sometimes I punch myself as hard as I can
Yelling nobody cares hoping someone will tell me how
Wrong I am
[chorus]
Has boxing been good
Has boxing been good to you?
https://youtu.be/c5VytK9DwG0
MARIA: Amo como o amor ama.
Fernando Pessoa
MARIA: Amo como o amor ama.
MARIA:
Amo como o amor ama.
Não sei razão pra amar-te mais que amar-te.
Que queres que te diga mais que te amo,
Se o que quero dizer-te é que te amo?
Não procures no meu coração...
Quando te falo, dói-me que respondas
Ao que te digo e não ao meu amor.
Quando há amor a gente não conversa:
Ama-se, e fala-se para se sentir.
Posso ouvir-te dizer-me que tu me amas,
Sem que mo digas, se eu sentir que me amas.
Mas tu dizes palavras com sentido,
E esqueces-te de mim; mesmo que fales
Só de mim, não te lembras que eu te amo.
Ah, não perguntes nada, antes me fala
De tal maneira, que, se eu fora surda,
Te ouvisse toda com o coração.
Se te vejo não sei quem sou; eu amo.
Se me faltas, (...)
Mas tu fazes, amor, por me faltares
Mesmo estando comigo, pois perguntas
Quando deves amar-me. Se não amas,
Mostra-te indiferente, ou não me queiras,
Mas tu és como nunca ninguém foi,
Pois procuras o amor pra não amar,
E, se me buscas, é como se eu só fosse
O Alguém pra te falar de quem tu amas.
Diz-me porque é que o amor te faz ser triste?
Canso-te? Posso eu cansar-te se amas?
Ninguém no mundo amou como tu amas.
Sinto que me amas, mas que a nada amas,
E não sei compreender isto que sinto.
Dize-me qualquer palavra mais sentida
Que essas palavras que, como se as perderas,
buscas
E encontras cinzas.
Quando te vi, amei-te já muito antes.
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há coisa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que não o fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro,
E com essas alegrias e esse prazer
Eu viria depois a amar-te. Quando,
Criança, eu, se brincava a ter marido,
Me faltava crescer e o não sentia,
O que me satisfazia eras já tu,
E eu soube-o só depois, quando te vi,
E tive para mim melhor sentido,
E o meu passado foi como uma estrada
Iluminada pela frente, quando
O carro com lanternas vira a curva
Do caminho e já a noite é toda humana.
Tens um segredo? Dize-mo, que eu sei tudo
De ti, quando m'o digas com a alma.
Em palavras estranhas que m'o fales,
Eu compreenderei só porque te amo.
Se o teu segredo é triste, eu saberei
Chorar contigo até que o esqueças todo.
Se o não podes dizer, dize que me amas,
E eu sentirei sem qu'rer o teu segredo.
Quando eu era pequena, sinto que eu
Amava-te já hoje, mas de longe,
Como as coisas se podem ver de longe,
E ser-se feliz só por se pensar
Em chegar onde ainda se não chega.
Amor, diz qualquer coisa que eu te sinta!
FAUSTO:
Compreendo-te tanto que não sinto.
Oh coração exterior ao meu!
Fatalidade filha do destino
E das leis que há no fundo deste mundo!
Que és tu a mim que eu compreenda ao ponto
De o sentir...?
MARIA:
Para que queres compreender
Se dizes qu'rer sentir?
s.d.
Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.
- 99.
1ª versão inc.: “Primeiro Fausto” in Poemas Dramáticos. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Eduardo Freitas da Costa.) Lisboa: Ática, 1952 (imp.1966, p.126).
sexta-feira, 7 de agosto de 2015
Bill Evans Trio - What Is There To Say
Bill Evans - Piano,
Sam Jones - Bass,
Philly Joe Jones - Drums
https://youtu.be/sXwXxbk-Ocs
Bach-Concerto for Violin and Oboe in c minor, BWV 1060
Bach-Concerto for Violin and Oboe in c minor, BWV 1060
I. Allegro(0:20)
II. Adagio(5:05)
III, Allegro(9:45)
Performed by ensemble Il Gardellino
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
Concert for George
George Harrison's friends, family, and bandmates unite for a tribute concert on the one-year anniversary of his death.
1. Eric Clapton & Ravi Shakar -- Intro / Itroduction [0:00]
2. Anoushka Shankar -- Your Eyes [6:30]
3. Jeff Lynne -- The Inner Light [15:14]
4. Anoushka Sankar & Ravi Shakar's Orchestra -- Arpan [18:19]
5. The Monty Python -- Sit On My Face [42:28]
6. The Monty Python -- The Lumberjack Song [45:12]
7. Jeff Lynne -- I Want To Tell You [49:15]
8. Eric Clapton -- If I Needed Someone [51:57]
9. Eric Clapton -- Old Brown Shoe [54:31]
10. Jeff Lynne -- Give Me Love [58:52]
11. Eric Clapton -- Beware Of Darkness [1:01:55]
12. Joe Brown -- Here Comes The Sun [1:06:06]
13. Joe Brown -- That's The Way It Goes [1:09:21]
14. Jools Holland and Sam Brown -- Horse To The Water [1:13:22]
15. Tom Petty and The Heartbreakers -- Taxman [1:19:19]
16. Tom Petty and The Heartbreakers -- I Need You [1:2242]
17. Tom Petty and The Heartbreakers -- Handle With Care[1:26:05]
18. Eric Clapton & Billy Preston -- Isn't It A Pity [1:29:51]
19. Ringo Starr -- Photograph [1:37:24]
20. Ringo Starr -- Honey Don't [1:41:28]
21. Paul McCartney -- For You Blue [1:45:00]
22. Paul McCartney -- Something [1:48:12]
23. Paul McCartney -- All Things Must Pass [1:52:48]
24. Eric Clapton -- While My Guitar Gently Weeps [1:56:41]
25. Billy Preston -- My Sweet Lord [2:02:55]
26. Jeff Lynne & George's Band -- Wah-Wah [2:08:12]
27. Joe Brown -- I'll See You In My Dreams [2:15:13]
https://youtu.be/j9Dr1anRP9w
Spiritualized - Ladies And Gentlemen We Are Floating In Space
https://youtu.be/iB7E1D_3Na4?list=PL4EItsGsS1SlQpi7Lxw_QvuLk46Psl0fI
Ambre (Nils Frahm) - Solo Piano Cover
Ambre (Nils Frahm) - Solo Piano Cover
https://youtu.be/_M7pQ0NRbPA
quarta-feira, 5 de agosto de 2015
A Memória é um Silêncio que Espera
"O património do silêncio. Os livros acumulam-se pela casa. Cobrem as paredes, enchem as prateleiras dos armários. Aguardam-nos calados com suas páginas apertadas onde o pó e a humidade se infiltram. Disciplinados, exibem apenas o seu dorso curvo coberto de pele, ou então magro, estreito, de papel. A memória é um silêncio que espera, uma provação da paciência."
Ana Hatherly, in 'Tisanas'
Ana Hatherly, in 'Tisanas'
Somos analfabetos do silêncio
Somos analfabetos do silêncio, por José Tolentino Mendonça
Ao que parece, durante anos, o compositor John Cage sondou a possibilidade de elaborar uma obra completamente silenciosa, mas impedia-o duas coisas: a dúvida se uma tarefa assim não estaria, desde logo, votada ao fracasso, porque tudo é som; e a convicção de que uma composição tal seria incompreensível no espaço mental da cultura do Ocidente. Contudo, encorajado pelas experiências que se realizavam já nas artes visuais, construiu a sua peça intitulada 4’33’’.
A proposta de Cage era completamente insólita: os músicos deviam subir ao palco, saudar o público, sentar-se ao instrumento e permanecer, em silêncio, por quatro minutos e trinta e três segundos, até que, de novo, se levantassem, agradecessem à plateia e saíssem. Na assistência instalou-se a polémica e choveram as vaias. Mas ao longo de toda a sua vida, John Cage referiu-se a essa peça com sentida reverência: «A minha peça mais importante é essa silenciosa; não passa um só dia que não me sirva dela para a minha vida e para tudo o que faço. Recordo-a sempre que tenho de escrever uma nova peça».
Quando penso no contributo que a experiência poética ou religiosa possa dar num futuro próximo à humanidade, penso francamente que mais até do que a palavra será a partilha desse património imenso que é o silêncio. Na palavra fazemos a experiência da diferenciação, experiência certamente fundante, mas também ela parcial e insuficiente. Precisamos do auxílio de outra ciência, a que recorremos pouco: o silêncio. Isaac de Nínive, lá pelos finais do século VII, ensinava: “A palavra é o órgão do mundo presente. O silêncio é o mistério do mundo que está a chegar”. Creio que é absolutamente urgente revisitarmos com outro apreço os territórios dos nossos silêncios e fazermos deles lugares de troca, de diálogos, de encontros. O silêncio é um instrumento de construção, é uma lente, uma alavanca.
As nossas sociedades investem tanto na construção de competências na ordem da palavra (e pensemos como a escolarização está ao serviço da capacitação dos indivíduos em ordem a um funcionamento eficaz com a palavra) e tão pouco nas competências que operam com o silêncio. Somos analfabetos do silêncio e esse é um dos motivos porque não sabemos viver na paz.
O silêncio é um traço de união mais frequente do que se imagina, e mais fecundo do que se julga. O silêncio tem tudo para se tornar um saber partilhado sobre o essencial, sobre o que nos une, sobre o que pode alicerçar, para cada um enquanto indivíduo e para todos enquanto comunidade, os modos possíveis de nos reinventarmos. Mas para isso precisamos de uma iniciação ao silêncio, que é o mesmo que dizer uma iniciação à arte de escutar.
Na sociedade da comunicação há um défice de escuta. Numa cultura de avalanche como a nossa, a verdadeira escuta só pode configurar-se como uma re-significação do silêncio, um recuo crítico perante o frenesim das palavras e das mensagens que a todo o minuto pretendem aprisionar-nos. A arte da escuta é, por isso, um exercício de resistência. Ela estabelece uma descontinuidade em relação ao real aparente, à sucessão ociosa do discurso, à enxurrada que a telenovelização do quotidiano (seja ele político, económico ou cultural) comporta. A escuta constitui uma cesura, um corte simbólico, uma deslocação.
Pense-se em como o silêncio dá a ver o património de uma amizade. E a pergunta é: como percebemos que dois desconhecidos são amigos? Pela forma como conversam? Certamente. Pelo modo como se riem? Claro que sim. Mas ainda mais porque nitidamente acolhem o silêncio um do outro. Entre conhecidos o silêncio é um embaraço, sentimos imediatamente a necessidade de fazer conversa, de ocupar o espaço em branco da comunicação. Com os amigos o silêncio nada tem de embaraçoso. O silêncio é um vínculo que une.
José Tolentino Mendonça (18-06-2015)
Ao que parece, durante anos, o compositor John Cage sondou a possibilidade de elaborar uma obra completamente silenciosa, mas impedia-o duas coisas: a dúvida se uma tarefa assim não estaria, desde logo, votada ao fracasso, porque tudo é som; e a convicção de que uma composição tal seria incompreensível no espaço mental da cultura do Ocidente. Contudo, encorajado pelas experiências que se realizavam já nas artes visuais, construiu a sua peça intitulada 4’33’’.
A proposta de Cage era completamente insólita: os músicos deviam subir ao palco, saudar o público, sentar-se ao instrumento e permanecer, em silêncio, por quatro minutos e trinta e três segundos, até que, de novo, se levantassem, agradecessem à plateia e saíssem. Na assistência instalou-se a polémica e choveram as vaias. Mas ao longo de toda a sua vida, John Cage referiu-se a essa peça com sentida reverência: «A minha peça mais importante é essa silenciosa; não passa um só dia que não me sirva dela para a minha vida e para tudo o que faço. Recordo-a sempre que tenho de escrever uma nova peça».
Quando penso no contributo que a experiência poética ou religiosa possa dar num futuro próximo à humanidade, penso francamente que mais até do que a palavra será a partilha desse património imenso que é o silêncio. Na palavra fazemos a experiência da diferenciação, experiência certamente fundante, mas também ela parcial e insuficiente. Precisamos do auxílio de outra ciência, a que recorremos pouco: o silêncio. Isaac de Nínive, lá pelos finais do século VII, ensinava: “A palavra é o órgão do mundo presente. O silêncio é o mistério do mundo que está a chegar”. Creio que é absolutamente urgente revisitarmos com outro apreço os territórios dos nossos silêncios e fazermos deles lugares de troca, de diálogos, de encontros. O silêncio é um instrumento de construção, é uma lente, uma alavanca.
As nossas sociedades investem tanto na construção de competências na ordem da palavra (e pensemos como a escolarização está ao serviço da capacitação dos indivíduos em ordem a um funcionamento eficaz com a palavra) e tão pouco nas competências que operam com o silêncio. Somos analfabetos do silêncio e esse é um dos motivos porque não sabemos viver na paz.
O silêncio é um traço de união mais frequente do que se imagina, e mais fecundo do que se julga. O silêncio tem tudo para se tornar um saber partilhado sobre o essencial, sobre o que nos une, sobre o que pode alicerçar, para cada um enquanto indivíduo e para todos enquanto comunidade, os modos possíveis de nos reinventarmos. Mas para isso precisamos de uma iniciação ao silêncio, que é o mesmo que dizer uma iniciação à arte de escutar.
Na sociedade da comunicação há um défice de escuta. Numa cultura de avalanche como a nossa, a verdadeira escuta só pode configurar-se como uma re-significação do silêncio, um recuo crítico perante o frenesim das palavras e das mensagens que a todo o minuto pretendem aprisionar-nos. A arte da escuta é, por isso, um exercício de resistência. Ela estabelece uma descontinuidade em relação ao real aparente, à sucessão ociosa do discurso, à enxurrada que a telenovelização do quotidiano (seja ele político, económico ou cultural) comporta. A escuta constitui uma cesura, um corte simbólico, uma deslocação.
Pense-se em como o silêncio dá a ver o património de uma amizade. E a pergunta é: como percebemos que dois desconhecidos são amigos? Pela forma como conversam? Certamente. Pelo modo como se riem? Claro que sim. Mas ainda mais porque nitidamente acolhem o silêncio um do outro. Entre conhecidos o silêncio é um embaraço, sentimos imediatamente a necessidade de fazer conversa, de ocupar o espaço em branco da comunicação. Com os amigos o silêncio nada tem de embaraçoso. O silêncio é um vínculo que une.
José Tolentino Mendonça (18-06-2015)
terça-feira, 4 de agosto de 2015
JS Bach Cantatas BWV 48,49,50,51,Harnoncourt & Leonhardt
JS Bach Cantatas BWV 48,49,50,51,Harnoncourt & Leonhardt
https://youtu.be/mQcO1vRviXQGustav Mahler | Wanderlied / Canção do viandante
Regência: Henrique Villas-Boas
Orquestra do Theatro São Pedro
Solista: Cristina Gallardo-Domâs (soprano)
Gustav Mahler (1860-1911)
Lieder eines fahrenden Gesellen
Canção do viandante
Saúde! E um um copo mais deste vinho cintilante!
Adeus pois, meus amigos! Eu devo partir.
Adeus pois, montanhas, casa de meus pais!
Os horizontes distantes chamam-me! Eu devo partir.
Adeus pois, meus amigos! Eu devo partir.
Adeus pois, montanhas, casa de meus pais!
Os horizontes distantes chamam-me! Eu devo partir.
O sol não permanece imóvel no céu,
No seu curso ele sobrevoa terras e oceanos.
A onda não se fixa na praia solitária,
As tempestades rugem, poderosas, através do país.
No seu curso ele sobrevoa terras e oceanos.
A onda não se fixa na praia solitária,
As tempestades rugem, poderosas, através do país.
Assim como a ave voa com as apressadas nuvens
Para os horizontes distantes e canta uma canção do seu país natal,
Também o jovem é impelido através dos bosques e dos campos
Para se assemelhar à terra mãe, o mundo em movimento.
Para os horizontes distantes e canta uma canção do seu país natal,
Também o jovem é impelido através dos bosques e dos campos
Para se assemelhar à terra mãe, o mundo em movimento.
Sobre os mares, as aves, familiares, saúdam-no,
Elas voaram para aqui vindas das campinas do seu país natal;
As flores à sua volta exalam familiares perfumes,
Transportados do seu país pela brisa.
Elas voaram para aqui vindas das campinas do seu país natal;
As flores à sua volta exalam familiares perfumes,
Transportados do seu país pela brisa.
As aves, elas conhecem a sua casa,
As flores, ele as plantou para fazer um "bouquet" ao amor,
E o amor acompanha-o pela mão:
Convertendo em pátria o país mais distante.
As flores, ele as plantou para fazer um "bouquet" ao amor,
E o amor acompanha-o pela mão:
Convertendo em pátria o país mais distante.
Carlos Drummond de Andrade - "O lutador"
Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça.
Insisto, solerte.
Busco persuadi-las.
Ser-lhes-ei escravo
de rara humildade.
Guardarei sigilo
de nosso comércio.
Na voz, nenhum travo
de zanga ou desgosto.
Sem me ouvir deslizam,
perpassam levíssimas
e viram-me o rosto.
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não têm carne e sangue…
Entretanto, luto.
Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate.
Quisera possuir-te
neste descampado,
sem roteiro de unha
ou marca de dente
nessa pele clara.
Preferes o amor
de uma posse impura
e que venha o gozo
da maior tortura.
Luto corpo a corpo,
luto todo o tempo,
sem maior proveito
que o da caça ao vento.
Não encontro vestes,
não seguro formas,
é fluido inimigo
que me dobra os músculos
e ri-se das normas
da boa peleja.
Iludo-me às vezes,
pressinto que a entrega
se consumará.
Já vejo palavras
em coro submisso,
esta me ofertando
seu velho calor,
outra sua glória
feita de mistério,
outra seu desdém,
outra seu ciúme,
e um sapiente amor
me ensina a fruir
de cada palavra
a essência captada,
o sutil queixume.
Mas ai! é o instante
de entreabrir os olhos:
entre beijo e boca,
tudo se evapora.
O ciclo do dia
ora se conclui
e o inútil duelo
jamais se resolve.
O teu rosto belo,
ó palavra, esplende
na curva da noite
que toda me envolve.
Tamanha paixão
e nenhum pecúlio.
Cerradas as portas,
a luta prossegue
nas ruas do sono.
Carlos Drummond de Andrade - "O lutador"
https://youtu.be/B-2uubCzUaI
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça.
Insisto, solerte.
Busco persuadi-las.
Ser-lhes-ei escravo
de rara humildade.
Guardarei sigilo
de nosso comércio.
Na voz, nenhum travo
de zanga ou desgosto.
Sem me ouvir deslizam,
perpassam levíssimas
e viram-me o rosto.
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não têm carne e sangue…
Entretanto, luto.
Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate.
Quisera possuir-te
neste descampado,
sem roteiro de unha
ou marca de dente
nessa pele clara.
Preferes o amor
de uma posse impura
e que venha o gozo
da maior tortura.
Luto corpo a corpo,
luto todo o tempo,
sem maior proveito
que o da caça ao vento.
Não encontro vestes,
não seguro formas,
é fluido inimigo
que me dobra os músculos
e ri-se das normas
da boa peleja.
Iludo-me às vezes,
pressinto que a entrega
se consumará.
Já vejo palavras
em coro submisso,
esta me ofertando
seu velho calor,
outra sua glória
feita de mistério,
outra seu desdém,
outra seu ciúme,
e um sapiente amor
me ensina a fruir
de cada palavra
a essência captada,
o sutil queixume.
Mas ai! é o instante
de entreabrir os olhos:
entre beijo e boca,
tudo se evapora.
O ciclo do dia
ora se conclui
e o inútil duelo
jamais se resolve.
O teu rosto belo,
ó palavra, esplende
na curva da noite
que toda me envolve.
Tamanha paixão
e nenhum pecúlio.
Cerradas as portas,
a luta prossegue
nas ruas do sono.
Carlos Drummond de Andrade - "O lutador"
https://youtu.be/B-2uubCzUaI
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
domingo, 2 de agosto de 2015
Orlando (Original Motion Picture Soundtrack) - 01 - Coming
Orlando (Original Motion Picture Soundtrack) - 01 - Coming
https://youtu.be/wabLaFOJRC8Orlando (1992): Eliza/Ennio Morricone: Ripley´s Game (3rd Vs)
Orlando (1992): Eliza/Ennio Morricone: Ripley´s Game (3rd Vs)
https://youtu.be/16Io1DiMBKU
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