Pelos olhos de uma criança passam
Rápidas as aves em ascensão.
Pelos olhos, as aves deslocadas,
São da criança a ilusão do mundo,
Não mais do que aves repetidamente,
A suceder aos olhos de criança
Que de aves sabe o que o mundo lhe traz.
Aves nos olhos da criança são
Restos a deslocarem-se do mundo,
Aves permanecendo aves, sempre.
Que aves são estas, postas à beira
Do caudal do poema, da fadiga
Da escrita e do miolo da memória?
Que aves são e como se deslocam
Por entre as folhas limpas arrancadas
Ao vazio das vozes, ao outono?
Porquê aves e porquê deste modo,
A arriscar a evidência sobre o voo?
E de que claros dedos surgem aves,
Estas que nunca antes existiram?
Rui Almeida, "TEMOR ÚNICO IMENSO", ed. Labirinto, 2014
|http://ruialme.blogspot.pt/|
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